Boa parte da sociedade brasileira celebrou a fala do ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, segundo o qual respeitará a Carta Democrática Interamericana e seus princípios, durante discurso, na terça-feira (26), na Conferência de Ministros de Defesa das Américas (CMDA), que reúne, em Brasília, os chefes das forças armadas de 34 países. Mas que democracia é essa que o general diz respeitar?
Ora, democracia é... democracia: o respeito à Constituição, às instituições, ao processo eleitoral e a seu resultado e a garantia de que forças armadas devem ficar restritas aos quartéis e submetidas ao poder civil.
Em um país onde, infelizmente, democracia precisa ser reafirmada diariamente, a própria palavra tem sido vilipendiada e seu significado distorcido. Vale lembrar que, em 1964, os generais de plantão também alegaram a "defesa da democracia" em nome de combater o "comunismo". O resultado foi golpe, ruptura institucional que durou 20 anos.
No caso da Carta Interamericana referida pelo general Nogueira, o significado de democracia é detalhado: o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais; as eleições periódicas, livres e justas; a transparência, a probidade e o respeito aos direitos sociais; o exercício do poder com respeito pelo Estado de Direito, entre outros princípios.
Como a fala de Nogueira agora contrasta com os atos do presidente Jair Bolsonaro, que põe em dúvida a segurança do sistema eleitoral brasileiro, e a seu próprio histórico de questionamentos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), caberia um pouco mais de tempo ao ministro no discurso da terça-feira (26). Quando diz que defende a democracia, talvez fosse adequado que o general dedicasse alguns minutos a mais de sua fala para explicar o que exatamente entende como tal. Até para não ficar parecendo que a declaração é apenas para inglês, ops... americano ver.