Para uma família gaúcha, foi uma tragédia. Para o Brasil, a perda do primeiro cidadão na Guerra da Ucrânia. Para o conflito, a morte do voluntário gaúcho André Hack Bahi, em combate ao lado das tropas ucranianas em Severodonestk, pode ser a parte mais visível, a ponta de iceberg, de um momento emblemático do conflito no campo tático da guerra.
Depois de resistir bravamente à invasão da capital, Kiev, os ucranianos estão sofrendo sucessivas baixas. Perderam a importante cidade de Mariupol, que permitiu aos russos estabelecer a ponte terrestre entre seu território, o Donbass e a Crimeia ocupada. Agora, os russos estão prestes a ocupar Severodonestk. A tomada da cidade abriria o caminho para assumir o comando de outra grande cidade do Donbass, Kramatorsk, uma etapa importante para conquistar toda a região de fronteira com a Rússia, que já está parcialmente nas mãos dos separatistas pró-Rússia desde 2014.
Na batalha em que morreu o gaúcho André, os ucranianos sofreram muitas baixas, inclusive de oficiais, segundo relatos obtidos pela coluna. As informações batem com os despachos de correspondentes no front. E com o que admitem as próprias autoridades na região. Nesta segunda-feira (13), o exército ucraniano admitiu que as tropas russas conseguiram expulsar os seus soldados do centro de Severodonetsk.
"Com o apoio da artilharia, o inimigo executou um ataque a Severodonetsk, com um triunfo parcial e expulsou nossas unidades do centro da cidade. Os combates continuam", informou o exército em um comunicado no Facebook.
Serguei Gaiday, governador da região de Luhansk - de onde Severodonetsk é o centro administrativo para a parte controlada pelas autoridades ucranianas - confirmou que as forças ucranianas foram expulsas do centro da cidade.
"Os combates nas ruas prosseguem (...) os russos continuam destruindo a cidade", afirmou em uma mensagem no Facebook, ao lado de imagens de edifícios destruídos ou em chamas.
Esse "momentum russo" foi captado por vários jornais americanos, em reportagem no domingo, que citaram autoridades dos Estados Unidos segundo as quais a Rússia pode tomar o controle do leste da Ucrânia em semanas". A previsão de que os ventos na Ucrânia estariam mudando em favor da Rússia veio acompanhada de críticas do presidente Joe Biden, que, em uma reunião com apoiadores em Los Angeles, na sexta-feira (10), afirmou que o governo Volodimir Zelensky, da Ucrânia, "não quis ouvir" os alertas americanos, há três meses, quando a invasão russa era iminente.
- Eu sei que muitas pessoas pensaram que talvez eu estivesse exagerando, mas eu sabia, e tínhamos dados para sustentar. Não havia dúvida. E Zelensky não queria ouvir, nem muita gente - disse, referindo-se aos dias que antecederam o fatídico dia 24 de fevereiro, início da guerra.
A lógica é simples: se cai Severodonesk, cai Kramatorsk. E, consequentemente, o Donbass. Assim, a Rússia terá estendido seu território para todo o leste ucraniano. Estará pronta a narrativa para Vladimir Putin dizer que a "operação especial" (eufemismo do Kremlin para a guerra) acabou, os "neonazistas" foram derrotados e a Rússia venceu. Fim de jogo.