A família de André Hack Bahi, voluntário que luta na guerra da Ucrânia contra a Rússia, pediu neste domingo (5) informações oficiais ao Itamaraty sobre o paradeiro do brasileiro, depois que surgiram informações de que ele pode ter morrido no front.
Aos 43 anos, o gaúcho de Porto Alegre viajou há três meses para ajudar as tropas ucranianas contra a invasão russa. A última informação que os parentes obtiveram era de que ele estava em missão em Severodonestk, no leste do país e epicentro atual do conflito.
Amigos de André dizem que ele teria sido morto durante um tiroteio. Segundo relatos de companheiros de front, o porto-alegrense e outro voluntário estrangeiro, de cidadania portuguesa, teriam sido atingidos na batalha.
"Sinto muito pela sua perda, se posso dizer alguma coisa para ajudar a te confortar é que ele morreu como um herói, em combate, assim como muitos de nossos amigos que combateram lá", disse um amigo da família, que também está no país em guerra.
Outros colegas publicaram em redes sociais fotos de André, lamentando o episódio e agradecendo por ele ter lutado pela Ucrânia.
Sem informações detalhadas, a irmã de André, Leticia Bahi, que mora na capital gaúcha, vive uma angústia desde sábado (4), quando as primeiras notícias do front apareceram. No domingo, ela entrou em contato com a embaixada do Brasil em Kiev, que informou que irá buscar informações oficiais junto ao governo da Ucrânia. Mas, como a região está sob intensos conflitos, a informação pode demorar a ser confirmada.
A última vez que Leticia falou com o irmão foi há cerca de cinco dias. Como há muita desinformação vinda da guerra, ela ainda tem esperanças de que tudo possa não passar de mentiras.
— A gente sabia que, quando ele estava em missão, poderia demorar a responder — conta.
André decidiu se juntar às forças ucranianas, atuando nas forças especiais, ao ficar comovido com o apelo do presidente Volodimir Zelensky. Ele chegou à Ucrânia em 28 de fevereiro, quatro dias depois do início da invasão russa.
Criado em Eldorado do Sul, André graduou-se em Enfermagem no Ceará, onde morou. Ele serviu ao Exército Brasileiro e, na capital cearense, Fortaleza, obteve experiência em zonas conflagradas, tendo atuado em escolta armada de carros-fortes em áreas de atuação do tráfico de drogas. Na cidade, deixou uma filha de dois anos. Ele tem ainda outros seis filhos, o mais velho com 21.
Nos últimos anos, André morou em Lisboa, Portugal, onde trabalhou com aplicativos de entrega de alimentos. Ele também já atuara na Legião Estrangeira da França. Em março, em entrevista à coluna, se dizia orgulhoso da missão que escolhera.
— Vou até o fim para ajudar o povo ucraniano, nem que isso custe a minha vida — afirmou.
Em seu perfil no Instagram, ele costumava postar fotos preparando-se para batalhas. No relato à coluna, falou do dia a dia no front:
— O combate é tenso, muito tiro. Os russos têm blindados e armamentos, mas nós somos bem preparados. Enquanto nossas baixas são de seis, as deles são de 30 ou mais. Mas eles estão toda hora bombardeando. Passamos 22 horas em combate, com bombas caindo a cerca de 500 metros ou menos de onde estávamos. Eu e meus colegas levamos rajadas de metralhadoras — contou.
Depois de atuar nos confrontos na capital Kiev, onde o exército russo recuou diante da resistência, o gaúcho foi lutar na região do Donbass, onde a guerra está concentrada. Na conversa com GZH ele falou sobre a saudade dos filhos.
— No dia dos tiros que passaram perto e quando fiquei perto de um blindado russo, só veio a imagem dela na minha cabeça (a filha menor). Foi quando fiz uma chamada de vídeo. Tenho outros dois filhos em Eldorado do Sul. Carrego meus filhos comigo no colete — disse, exibindo um chaveiro com as imagens das crianças.
Nas últimas postagens no Instagram, André não mostrava havia alguns dias fotos na guerra. As cenas de destruição foram substituídas por imagens de arquivo de André em praias do Nordeste. As imagens foram retiradas de seu perfil na tarde deste domingo. O Itamaraty acompanha o caso.