Durante o período em que estive na Ucrânia, fiz contato com um alto executivo, CEO de uma multinacional, que decidiu pegar em armas para defender Kiev. O relato do homem de 44 anos, que trocou o terno e a gravata por uniforme e fuzil diante do avanço russo, foi publicado em GZH no dia 4.
- Eu tinha a ideia de que os dias que viriam não esqueceríamos. Precisava estar em Kiev e defender minha cidade. Para mim, essa é a coisa certa a fazer - contou.
Por razões de segurança, a coluna não o identificou nem publicou o nome da empresa para a qual ele trabalha. Nesta sexta-feira (11), em novo contato, o executivo aceitou que seu nome fosse publicado e seu rosto, mostrado.
Além de dar detalhes sobre suas funções como homem de negócios, ele enviou uma série de vídeos e fotos de sua nova atividade, como um dos defensores civis de Kiev.
Trata-se de Alexander Nosachenko, 44 anos, casado e pai de dois filhos.
Desde 2006, ele é CEO da Colliers International na Ucrânia, empresa de gestão de investimentos com 482 escritórios em 62 países e com mais de 17 mil empregados. Conforme o site da companhia, a empresa conta com receitas anuais de US$ 4,1 bilhões e mais de US$ 50 bilhões de ativos sob gestão.
Antes de se tornar o principal executivo da empresa na Ucrânia, Nosachenko atuou entre 2005 e 2006 como diretor do Departamento de Escritórios e Propriedade Industrial da companhia. Entre 2001 e 2006 foi consultor.
O executivo é formado em Economia, curso que estudou entre 1993 e 1998 na Kyiv National Economic University. Sobre mostrar seu rosto, apesar dos riscos de ser caçado pelas forças russas, ele afirmou à coluna, com exclusividade:
- Percebi que se não tenho medo de morrer, porque esconder meu rosto? Se mostrar meu rosto, as pessoas irão perceber que sou real. Isso fará as outras pessoas perceberem o que exatamente está ocorrendo em Kiev.
Ele também deu detalhes de suas tarefas como combatente:
- Faço parte de um grupo de snipers (atiradores de elite). Sou civil, mas também um sniper. Estamos preparando nossa posição em Kiev. Parte do nosso grupo deslocou-se para executar algumas tarefas atrás das linhas inimigas: enviam coordenadas por GPS para a artilharia, que então ataca os tanques deles (dos russos) e seus veículos blindados. Dentro da cidade, temos também um grupo diferente, ajudando a realocar pessoas, a evacuá-las, a enviá-las para fora de Kiev.
Nosachenko explicou que integra um grupo de cerca de 50 atiradores de elite, sendo, segundo ele, 99% formado por civis.
- Aprendemos a atirar por muitos e muitos anos, como civis - acrescentou.
Nos vídeos enviados à coluna, ele descreve suas tarefas. Em um deles, aparece no alto de um terraço.
- Essa aqui é minha tarefa agora, cobrindo no terraço de um prédio com meus companheiros. Esse é nosso posto hoje, das 8h da manhã até 7h da noite. É um prédio de meia altura, está um pouco frio aqui. Mas estamos com roupas apropriadas, como essas (mostra uma luva), e temos café, chocolate e esses são meus amigos - diz, ao apontar a câmera para pombas.
Em outro vídeo, mostra sua posição em cima de um viaduto em um vilarejo a 15 quilômetros de Kiev. É noite.
- Não importa o que façam (os russos), ao redor de Kiev, as tropas deles serão destruídas. Acho que é uma situação muito difícil para eles porque eles começaram isso e agora está claro como cristal que Rússia deve partir, simplesmente porque vão perder essa guerra. Sem dúvidas. Tenho a sensação de que eles vão perder essa guerra. Porque o mundo inteiro está nos ajudando. A Europa está impondo severa pressão econômica. Nas próximas semanas, todas as pessoas na Rússia vão perceber que a economia deles está completamente quebrada. EUA e Europa começaram a nos apoiar com equipamentos de defesa. Esse é um problema para os russos, porque temos homens ucranianos prontos para lutar, tudo o que precisamos é equipamentos, armas e munição, incluindo equipamentos antitanques, espero que possam nos apoiar com aviões ou similares. A máquina de guerra russa é fake, é um mito. Eles vieram com seus tanques e a tripulação de cada um é constituída por apenas duas pessoas em cada tanque. Isso é ridículo. É fake - diz.