O que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) está fazendo, ao convidar o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, para participar da reunião de cúpula nesta quinta-feira (24), dia que marca um mês de guerra, é como oferecer um doce e depois tirá-lo de uma criança.
Aliás, esse tem sido o comportamento da aliança militar durante a mais grave crise de segurança europeia em três décadas, por absoluta incapacidade de fazer mais e ser tragada para um conflito direto com a Rússia.
A Otan não quer a Ucrânia como membro. Isso até as paredes em estilo barroco do Palácio Mariyinsky, trincheira de Zelensky, sabem. Também já rejeitou impor zonas de exclusão aérea sobre o país em guerra, a fim de facilitar a retirada de civis, porque essa medida, caso seja violada (e seria), obrigaria a uma retaliação por parte da aliança - o que também seria considerado um ato de guerra pela Rússia. Ainda, a agremiação de países tem rechaçado os apelos de Zelensky para que envie aviões de combate - os EUA barraram o desejo da Polônia de mandar para dentro do território ucraniano as aeronaves MiG-29.
Mas não se trata de um total "tirar o corpo fora". Indiretamente, a Otan tem apoiado a Ucrânia com armas de defesa (basicamente antitanque), enviadas por seus países membros, como Polônia e Reino Unido.
E a participação da Zelensky, que deve no mínimo discursar virtualmente na reunião de cúpula (e no máximo participar de todo o encontro, também de forma remota), entra nesse "morde e assopra". A Otan precisa mostrar à Rússia que segue ao lado da Ucrânia, ainda que ela não seja um membro. É mais um recado do que algo concreto.
Zelensky, que inteligentemente tem aproveitado todos os espaços internacionais, com discursos em parlamentos, provoca o Kremlin ao aparecer na cúpula da Otan - o mais próximo, talvez, que ele conseguirá chegar da aliança militar. E na fala deverá repetir os pedidos que tem feito ao Ocidente, embora, como se sabe, não apenas não serão atendidos como soam repetitivos. O próprio presidente já dá mostra de perder a paciência.
- A Otan deveria dizer agora que está nos aceitando, ou dizer abertamente que não está nos aceitando porque tem medo da Rússia, o que é verdade - alfinetou ele, na terça-feira (22).
A chave para o fim do conflito, na cabeça de Zelensky, pode ser "garantias de segurança". O que isso significa exatamente não é claro. Como a Otan pode dar "garantias de segurança" à Ucrânia sem formas claras de dissuasão que não soem como ameaça à Rússia - porque isso Putin também não vai aceitar - e seguirá o impasse.
Ao chegarmos a 30 dias de guerra, a Europa dá sinais de ter chegado ao limite das punições possíveis à Rússia, sem que sanções afetem sua própria economia - muitos países são dependentes do gás natural russo. E a Otan também parece ter queimado todas as opções militares, com exceção de uma guerra aberta com a Rússia. Em meio tudo isso, há ainda uma divisão entre países que se veem como mais ameaçados por Vladimir Putin, como a Polônia, e que demandam garantias maiores de segurança por parte da Otan.