Tudo acontece no Chile, que passa pela maior transformação das últimas décadas!
Enquanto o mundo está preocupado com o aumento dos casos de covid-19 na Europa e o aparecimento da variante Ômicron, importantes processos sociais e políticos se passam aqui pertinho, do outro lado da Cordilheira dos Andes.
São várias as decisões que podem mudar os rumos do país. Nesta segunda-feira, por exemplo, o Senado debate o projeto de lei que pode tornar o Chile a oitava nação da América Latina em que o casamento igualitário entre pessoas do mesmo sexo é legal - até aqui, o país só reconhece a união por meio de outro mecanismo, mais limitado, e que deixa a desejar em questões sucessórias e de pensões e não prevê o direito de casais terem filhos.
Com tradição de ser o mais conservador do Cone Sul - com forte influência da Igreja Católica e que só aprovou o divórcio em 2004 -, o Chile vive uma revolução de dois anos para cá. As revoltas por maior igualdade social na vitrine latino-americana do modelo neoliberal sacudiu a nação no final de 2019. De lá para cá, nem a pandemia abafou as reivindicações. Contra a parede, o governo do presidente Sebastián Piñera, de direita, foi obrigado a fazer mea-culpa pela reação violenta aos protestos e encaminhar um referendo no qual a maioria dos chilenos decidiu por uma nova Constituição - a última, era do tempo do ditador Augusto Pinochet - e que essa deveria ser escrita por constituintes eleitos só para isso.
O processo está em curso - e um tanto atrasado, diga-se de passagem.
No meio de tudo isso, o coronavírus - e o Chile dá exemplo de vacinação no mundo. Nesta segunda-feira (6), contabiliza 84,43% da população imunizada com as duas doses - e 46,74% com a dose de reforço. É o primeiro colocado no planeta em relação à terceira aplicação. Em relação às duas doses, perde apenas para Portugal e Emirados Árabes Unidos.
Nem o bom desempenho na contenção do vírus, entretanto, garantiu a paz para o presidente Piñera, que se livrou de dois processos de impeachment - um pela violência policial nos protestos e outro devido às suspeitas de venda de uma mina em paraíso fiscal. Conseguiu se safar graças à maioria no Senado, depois de aprovações pela Câmara.
O país está ainda em plena campanha de segundo turno da eleição presidencial. No domingo, 19, os eleitores irão decidir entre o esquerdista Gabriel Boric e o candidato da extrema-direita José Antonio Kast. Boric lidera as pesquisas, com 40% das intenções de voto, contra 35% de Kast. A extrema-direita, entretanto, conseguiu reunir nos últimos dias o apoio de todos os partidos da direita tradicional: União Democrática Independente (UDI), Evolução Política, e Renovação Nacional.
Ele venceu no primeiro turno por uma diferença de pouco mais de dois pontos percentuais - 27,9% contra 25,8% de Boric. Os levantamentos apontam cerca de 25% dos eleitores indecisos.
A votação sobre o casamento gay dá munição para os dois lados. Boric, que é deputado, sempre se posicionou a favor e acusa a posição do rival de ser discriminatória. Kast, que frequentemente cita a ditadura de Pinochet e é contrário à lei do aborto, pode aproveitar a discussão para angariar mais votos conservadores. Ele ainda promete construir uma cerca na fronteira para evitar a entrada de imigrantes ilegais e propõe benefícios sociais maiores às mulheres casadas.
Na Câmara, o projeto foi aprovado por 101 votos a favor, 30 contrários e duas abstenções. Em julho, o Senado já debateu e aprovou o tema - por 28 votos a favor -, mas como houve mudanças no texto, o projeto precisou ser analisado novamente.