Uma das perguntas inconvenientes nesse aniversário de 20 anos dos maiores atentados terroristas da história é se aquelas cenas poderiam se repetir. Em outras palavras: o mundo é hoje um lugar mais seguro do que naquele 11 de setembro de 2001?
Sim e não. Os Estados Unidos, nação alvo daquele dia infame, são hoje muito mais seguros. Há uma articulação entre as agências de inteligência, que duas décadas atrás não existia. Parte por disputa de ego, parte por falta de vontade política, CIA não falava com FBI, por exemplo. A partir do horror daquele dia, foi criado o Departamento de Segurança Interna, que passou a ser um dos principais braços do governo para evitar a repetição de tragédias como aquela.
O outro lado dessa questão é que o 11 de Setembro pariu uma sociedade hipervigiada. Há uma desconfiança muito grande entre os americanos depois que os 19 sequestradores, a maioria saudita, aproveitaram o American way of life para atingir a superpotência por dentro - inclusive vivendo e aprendendo a pilotar aviões em escolas dos EUA, convivendo por anos como cidadãos comuns, sem despertar suspeitas.
O medo que faz os americanos desconfiarem de tudo e de todos produz situações como xenofobia, especialmente contra migrantes de países de maioria islâmica. Sequestrar um avião hoje, entretanto, é muito mais complicado graças aos procedimentos de segurança em aeroportos.
Osama bin Laden está morto. A rede Al-Qaeda, desarticulada. O Estado Islâmico, grupo originado a partir do caos da deposição de Saddam Hussein, tem pouco poder de ação fora das fronteiras síria e iraquiana. Por outro lado, cometer atentados menores ficou mais fácil, com ação de lobos solitários e com o uso da tecnologia, seja para fabricação de bombas seja para disseminação de conteúdos de ódio. Extremistas, a qualquer momento, em qualquer lugar, podem atropelar pessoas com caminhões ou esfaquear civis por aí, inspirados nesses grupos terroristas, porém, sem vínculo direto com eles.
Trata-se de uma ameaça mais difusa. Os EUA nunca mais sofreram um atentado como aqueles, mas seus aliados na Europa não podem dizer o mesmo.
Segundo Brown University, há mais grupos jihadistas em atividade no mundo hoje do que havia em 11 de setembro de 2001. Mas suas ações acabam em geral matando civis em países pobres. As principais vítimas do terrorismo islâmico são os próprios muçulmanos na Nigéria (Boko Haram), na Somália (Al-Shabab), no Iraque (o que sobrou do EI) e no Afeganistão (o Isis-K). São os chamados Estados falidos.
Os acontecimentos recentes no Afeganistão, com o retorno do Talibã ao poder, podem servir de estímulo para extremistas. A ameaça terrorista não muda de um dia para o outro.