A primeira viagem internacional de Joe Biden como presidente dos Estados Unidos entrará para a história como um capítulo de reconstrução de pontes dinamitadas em quatro anos por Donald Trump.
O combate à pandemia de coronavírus e uma proposta de reforma tributária global, esforço americano para uma taxa mínima de 15% sobre corporações, são temas relevantes da pauta da primeira parada do democrata em oito dias - a região da Cornualha, onde se reunirão os líderes do G-7 pela primeira vez presencialmente desde o início da crise da covid-19.
O aspecto simbólico da retomada dos EUA como líderes dos grandes assuntos globais permeará rodas de conversas nas terras de Sua Majestade, passará pelo Castelo de Windsor, onde haverá um encontro entre Biden e a rainha Elizabeth II, cruzará o Canal da Mancha, chegando a Bruxelas, onde ocorrerão a conferência da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e a cúpula EUA-União Europeia (UE), e - cereja do bolo - impregnará o ar na diplomática Genebra, palco de uma reunião tête-à-tête com o presidente russo, Vladimir Putin.
Sob o lema America First, Trump erodiu a histórica boa relação com os aliados do Velho Continente, com a saída de pactos e organizações multilaterais, como o Acordo de Paris e da Organização Mundial da Saúde (OMS), ameaças de abandonar a Otan e cobranças do tipo "a Europa que se encarregue de pagar pela própria segurança".
Na maior parte do tempo, Biden estará entre velhos conhecidos - dos anos em que chefiou a comissão de assuntos externos do Senado e principalmente do período como vice de Barack Obama. Ao contrário do antecessor, o democrata falará a mesma língua dos europeus: segurança em relação à saúde, recuperação econômica global, cooperação, crise climática, fortalecimento da democracia e preocupações mútuas.
O ponto alto da viagem será a cúpula com Putin, que ocorre em meio a um dos momentos mais tensos entre os dois países desde a Guerra Fria - com novas sanções americanas à Rússia, exigências de libertação de presos políticos, movimentações militares nas barbas da Otan, a não engolida ocupação e anexação da Crimeia e a tensão em Belarus. A Casa Branca tem dito que suas expectativas são modestas. O único objetivo antecipado é tornar as relações entre os dois países "mais estáveis e previsíveis". Já será muito.