O agora ex-primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu nunca foi um Donald Trump no imaginário dos "amigos" do presidente Jair Bolsonaro.
O americano era o líder máximo, aquele a ser imitado e de quem o brasileiro esperava devoção recíproca, que nunca veio. Ainda que não na mesma medida, a admiração por Netanyahu é grande no círculo mais próximo do presidente.
A lembrar: Bibi, como é conhecido o longevo premier que deixou o cargo no domingo (13), foi um dos únicos chefes de governo de um grande país a vir para a posse de Bolsonaro, em 2018; o brasileiro escolheu Israel como prioridade das relações bilaterais e deu provas concretas de sua parte (seguindo os passos de Trump, é verdade), como o plano de transferência da embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém, só abortado diante dos protestos da comunidade árabe, importante compradora de produtos brasileiros; o Brasil votou contra resoluções nas Nações Unidas que pudessem constranger Israel, como recentemente, na Organização Mundial da Saúde (OMS), que pedia que a situação de saúde dos palestinos fosse avaliada e que exigia acesso às vacinas contra a covid-19; na visita a Israel, em 2019, Bolsonaro deu caráter político à visita ao Muro das Lamentações, ao ser acompanhado por Netanyahu. Como o local fica em Jerusalém Oriental - ocupada por Israel em 1967 e reivindicada por palestinos -, líderes internacionais em geral preferem visitá-lo sem o acompanhamento de governantes israelenses, dando caráter mais pessoal do que de Estado à visita.
Bolsonaro e Netanyahu tinham mais do que afinidades ideológicas. Para o brasileiro, colar na imagem de Israel significava agradar às pautas da base evangélica - em 2016, o ainda deputado inclusive foi batizado nas águas do Rio Jordão. Nos últimos anos, houve uma apropriação de elementos da fé judaica pelos evangélicos, como o candelabro (menorá) e a estrela de David.
A saída de Netanyahu do poder não é boa para Bolsonaro, ainda que pouco mudem as relações comerciais, consolidadas desde a fundação de Israel.
Ainda que o novo primeiro-ministro Naftali Bennett seja da direita radical - o primeiro chefe de governo religioso da história de Israel e defensor de ideias nacionalistas, como a ampliação das colônias judaicas na Cisjordânia -, sua agenda será limitada pela coalizão heterogênea que o fez chegar ao cargo. São tantos partidos, com tão diferentes ideologias - três de direita, dois de esquerda, dois de centro e um árabe -, que a própria sobrevivência da aliança coloca assuntos internos do país em primeiro lugar.
Desde a semana passada, diplomatas brasileiros estão em contato com assessores de Bennett para buscar uma ponte com o novo líder. Espera-se que o americano George Birnbaum seja um dos elos.
A outra figura fundamental na costura da coalizão, Yair Lapid, que deve ser o novo premier daqui a dois anos, se a coalizão de governo se mantiver, é ainda pior para os planos do Planalto. Ele já deu entrevistas nas quais deixou claro que, se chegasse ao poder, se distanciaria de líderes como Victor Orbán, da Hungria, e de Bolsonaro - citando-os nominalmente -, e se aproximaria de políticos como Emmanuel Macron.