Ainda que alguns veículos de comunicação israelenses levantem a possibilidade de um cessar-fogo entre esta quinta (20) e sexta-feira (21), não há solução fácil para a atual onda de violência entre Israel e Hamas.
A pressão da comunidade internacional por uma redução do conflito aumentou nas últimas horas, com o presidente Joe Biden, dos Estados Unidos, pedindo publicamente uma trégua, a França atuando nos bastidores do Conselho de Segurança da ONU por uma resolução, com o apoio de Egito e Jordânia, tradicionais interlocutores dos palestinos, e a China correndo por fora em busca de maior protagonismo como nova mediadora em potencial.
Mas o fato é que, após 11 dias de ataques mútuos, nem Israel nem Hamas vislumbram o fim das hostilidades enquanto não atingirem seus objetivos - o que, por si só, é nebuloso.
Qual seria o objetivo do Hamas, um grupo que nega a existência de Israel? A fala do porta-voz da organização, Hazem Qassam, está no campo da abstração: a calma só será restaurada se "Israel encerrar sua agressão em Jerusalém e seu bombardeio a Gaza". Os bombardeios até podem cessar. Mas o que chama de "agressão a Jerusalém" significa a presença israelense na Cidade Sagrada, que irá continuar - o status de Jerusalém é um dos pontos mais polêmicos e complexos de qualquer negociação para uma paz duradoura na região.
Do lado israelense, o objetivo é mais claro: reduzir a capacidade militar do Hamas, destruir esconderijos de líderes do grupo, seus centros de comunicação e os túneis por onde ingressam armas e munição.
Embora mais concretas, essas metas não são simples de serem alcançadas. Esses 11 dias de conflito mostraram que os dois lados estão mais fortes. Há anos, por exemplo, um foguete do Hamas não atingia Tel Aviv. E, por mais competente que seja o sistema antimíssil israelense, a Cúpula ou Domo de Ferro, sempre escapa algum desses artefatos, provocando mortes e destruição - pelo menos 12 israelenses morreram no conflito. O poder de fogo de Israel também está maior - ou ao menos a decisão política de utilizá-lo. Vários prédios foram destruídos em Gaza e, por mais que sejam alvos considerados militares, Israel também admite "danos colaterais" - no total, segundo os palestinos, 228 pessoas morreram desde o início da ofensiva no território.
Desde que o Hamas assumiu o controle de Gaza, já foram quatro guerras desse tipo. A última, em 2014, durou 51 dias e deixou 2.251 palestinos e 74 israelenses mortos.
Quando vai parar? Os objetivos militares até podem ser atingidos de alguma forma, mas, ainda assim, persistirão em aberto as metas políticas. O premier israelense, Benjamin Netanyahu, precisa reivindicar a vitória sobre o Hamas para se manter no poder - e, com sorte, se livrar da Justiça onde é réu por corrupção. Já o Hamas também precisa se declarar vencedor sobre Israel para se posicionar, diante do público doméstico, como únicos interlocutores dos palestinos em seu conflito interno com a cada vez menos representativa Fatah, que administra a Autoridade Nacional Palestina (ANP).
Como há intransigência de ambos os lados - e provavelmente ambos se declararão vencedores, como sempre acontece -, as bombas só deixarão de cair de um lado e outro quando se chegar à exaustão.