Até oito dias atrás, o governo Joe Biden vivia uma lua de mel interna e externa. No nível doméstico, o país dobrou a esquina da covid-19, vacinando aceleradamente a população e, em ato simbólico, permitindo aos imunizados que retirassem as máscaras de proteção. No Exterior, a reunião de cúpula sobre ambiente reposicionou os Estados Unidos na liderança global das discussões sobre clima e, ato contínuo, trouxe de volta a nação ao sistema multilateral.
Às vésperas de completar quatro meses na Casa Branca, Biden poderia, enfim, preocupar-se com as duas grandes questões geoestratégicas que se impõem, as potências que atualmente fazem frente à hegemonia americana na ordem global: a Rússia (nesse tempo, o americano chamou o colega russo, Vladimir Putin, de "assassino" e impôs novas sanções devido ao caso Navalny) e a China, que o democrata pretende uma abordagem negociada, porém não menos dura do que a adotada por seu antecessor, Donald Trump.
Eis que irrompe a nova crise entre Israel e os palestinos, pouco mais de uma semana atrás. Biden foi pego no contrapé.
O presidente, com ampla experiência em relações internacionais construída tanto no Congresso quanto como vice de Barack Obama, foi chamado ao desafio. Mas está titubeante. Se antes os elogios eram internos e externos, agora é pressionado também nas duas esferas.
Dentro do Partido Democrata, Biden vive uma queda de braço com a ala progressista, capitaneada pelo senador Bernie Sanders e a deputada Alexandria Ocasio-Cortez a ser mais enérgico na exigência de uma trégua imediata por parte de Israel. No telefonema que deu ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, na segunda-feira (17), o presidente defendeu no máximo um cessar-fogo.
É sutil a diferença. Mas uma cessar-fogo é menos do que uma trégua.
O que, de fato, querem Sanders, Alexandria e boa parte dos democratas, inclusive judeus, como o senador e outros pró-Israel, é exatamente o que Biden vem evitando: uma crítica contumaz às ações militares do governo Netanyahu pelos bombardeios que mataram até agora pelo menos 200 palestinos. No mínimo. No máximo, os progressistas exigem a revisão da ajuda militar de US$ 4 bilhões que os EUA entregam a Israel a cada ano. Biden, por enquanto, evita críticas a Israel e tem dito que o país tem o direito de se defender.
O problema é que, ao adotar a parcimônia, Biden acaba sendo duramente criticado também por outro lado. A oposição republicana acusa a atual Casa Branca democrata de não dar apoio suficiente a Israel ao não condenar, de forma inequívoca, a chuva de foguetes que o Hamas tem feito cair sobre o país do Oriente Médio _ e que só não causam maior destruição e mortes porque os artefatos são abatidos no céu pelo poderoso Domo de Ferro, o sistema antimíssil israelense. Mesmo assim, até agora, pelo menos 10 israelenses foram mortos.
No âmbito externo, os EUA sob Biden tem mostrado a mesma hesitação. Tem barrado no Conselho de Segurança da ONU uma declaração conjunta que exija um cessar-fogo imediato. Mas ao mesmo tempo, tem evitado críticas de um lado ou outro. Enquanto isso, a guerra continua. Os foguetes do Hamas seguem sendo lançados contra Israel e matando gente. Os mísseis seguem sendo lançados contra Gaza e matando gente.