A coluna já destacou que, no mapa-múndi da vacina, disponibilizado pela Universidade de Oxford, países produtores de imunizantes, como China, Índia e Rússia, registram baixíssima adesão às campanhas, na comparação com Europa, Estados Unidos e até com o Brasil.
A China, por exemplo, registra 10,36 doses por cem habitantes. Índia, 6,64 doses por cem habitantes. E Rússia, 8,94 doses por cem habitantes. Todos, proporcionalmente, vacinaram menos do que o Brasil.
Há diferentes explicações. Uma delas é que, a China, por exemplo, priorizou a exportação de insumos, o chamado IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo), aproveitando-se de seu know how, em detrimento da vacinação interna. O objetivo por trás da estratégia é aumentar, por meio da vacina, a influência geopolítica - especialmente na América do Sul e Central.
A chamada diplomacia da vacina é um campo novo a ser estudado, mas é semelhante ao modus operandi chinês no auge da primeira onda da pandemia, quando o país aproveitou-se do vácuo político deixado pelos Estados Unidos do então governo Donald Trump para inundar a Europa com respiradores e equipamentos de proteção individual (EPIs).
Um dos ganhos da diplomacia da vacina para Pequim é apoio internacional para causas que o governo considera fundamentais - como a questão de Taiwan, a situação em Hong Kong e o Tibete. Recentemente, Taiwan acusou a China de prometer vacina contra o coronavírus ao Paraguai em troca do fim do apoio diplomático do país sul-americano à ilha, que Pequim considera uma província rebelde. Na prática, Assunção rompe com Taipé e ganha vacina chinesa.
A Índia também valorizou a exportação de vacinas em troca de influência política - especialmente em seu entorno estratégico, para países como Butão e Bangladesh. Mas, quando se deu conta de que o envio do produto para o Brasil, por exemplo, coincidiria com o início da campanha de vacinação no país - e como isso poderia pegar mal no âmbito interno para o governo do nacionalista Narendra Modi -, também atrasou por alguns dias o envio dos imunizantes.
A China pode se dar ao luxo de colocar a imunização da população em segundo plano, valorizando o mercado externo, porque os novos casos de covid-19 são poucos. Na quarta-feira (7), foram 33 em todo o país. No dia anterior, 19. Mas isso pode estar começando a mudar. E aí entra a hipótese do atraso do envio do IFA para o Butantan, que só deve receber novo carregamento na sexta-feira (16), segundo o coordenador-executivo do Centro de Contingência do Coronavírus de São Paulo, João Gabbardo.
Há uma pressão cada vez maior internamente na China para que a imunização seja acelerada, especialmente diante de novos casos - pouquíssimos na comparação com outros países, mas ainda assim preocupantes.
Além disso, como a vida voltou ao normal na China, muitos moradores não consideram urgente a vacinação. Algo que o governo quer mudar - está inclusive oferecendo incentivos a quem receber a dose.
O regime estabeleceu como meta atingir 40% da população vacinada até junho. Hoje, o contingente imunizado equivale a 10% da população.