Ainda que a vacinação seja lenta, o Brasil já figura no ranking global à frente de nações desenvolvidas, como Canadá, de territórios que sofreram muito com o coronavírus, como a Itália, e com maior percentual inclusive do que países que contam com produção própria de imunizantes, como a Índia e a Rússia.
No ranking de doses aplicadas a cada cem habitantes, que permite comparações entre diferentes tamanhos de populações, o Brasil ocupa o 17º lugar (0,11 por cem), logo atrás da China (0,12). Mesmo assim, está bem distante de Israel, país que lidera a vacinação no mundo com 1,39 dose por cem habitantes, dos Emirados Árabes Unidos (0,97 por cem) e do Chile, 0,96 por cem.
Primeiro país do Ocidente a iniciar a campanha, em 8 de dezembro, o Reino Unido aparece em quarto lugar (0,64 por cem), imediatamente à frente dos Estados Unidos (0,5 por cem)
Chama atenção que países detentores de vacina, como a Rússia e a Índia, estejam atrás do Brasil. Na Rússia, onde o governo passou a disponibilizar de forma gratuita a imunização para todos que procurarem os postos, não mais apenas a grupo com prioridade, vacinou apenas 0,07 por cem habitantes. Apesar da facilidade para acesso à vacina em Moscou, não está clara a velocidade real com que avança a campanha de imunização na Rússia. Os dados não são atualizados desde 10 de fevereiro.
Mesmo depois da confirmação da eficácia por uma pesquisa independente, publicada na revista The Lancet, parece que até os próprios russos não confiam em sua vacina. Pesquisas realizadas pelo centro independente de pesquisas Levada mostraram que mais da metade dos entrevistados não quer receber a Sputnik.
A Índia, segundo país com maior número de infectados pela covid-19 e que utiliza a Covishield, da Oxford/AstraZeneca, desenvolvida pelo Instituto Serum, e a Covaxin, da Bharat Biotech, começou a vacinação um dia antes do Brasil (16 de janeiro). Uma das dificuldades deve-se ao tamanho gigantesco da população. A Índia tem 1,4 bilhão de habitantes, seis vezes mais do que o Brasil. Só os grupos prioritários, compostos por profissionais de saúde, idosos e pessoas com comorbidades, policiais e soldados, somam mais de 300 milhões de pessoas - quase 100 milhões a mais do que o Brasil. O governo também enfrenta resistência de alguns profissionais de saúde, que questionaram a falta de divulgação de dados sobre eficácia da Covaxin, aprovada antes da conclusão dos testes da terceira fase), e desinformação em relação às vacinas.
No caso canadense, o curioso é que o país garantiu o maior número de potenciais doses de vacina per capita do mundo (fechou negócios com sete fornecedores). São 400 milhões de doses, muito mais do que o suficiente para imunizar toda sua população de 38 milhões de habitantes. Mas ficou na mão em parte porque decidiu por vacinas de fábricas europeias, que têm dificuldades para cumprir os contratos. Há atraso nas entregas – e agora a própria União Europeia (UE) tem prioridade.
Na Europa, a Itália chama atenção porque foi a porta de entrada do coronavírus no continente, mas é um dos últimos da UE na corrida pela imunização. O país é um dos que mais sofre com os atrasos na entrega da Pfizer/BioNtech. Em janeiro, chegou a receber 29% menos doses do que o estabelecido pelo contrato com a empresa em uma semana. Na semana seguinte, nova redução, para 20%. O governo planeja acionar a Pfizer na Justiça por conta do problema. Outro motivo para a lentidão deve-se à falta de profissionais de saúde e seringas. Médicos e enfermeiros aposentados e voluntários foram convocados a ajudar. Em algumas regiões, como a Calábria, profissionais estão tendo de administrar as doses mesmo fora do horário de trabalho. Há problemas na distribuição de seringas na Lombardia.
Na Argentina, o governo esperava 25 milhões de doses da vacina russa para janeiro e fevereiro. Elas não chegaram. Conforme o Ministério da Saúde, os produtos seriam fabricados em laboratórios da Índia e da Coreia do Sul. Nesta terça-feira (16), o embaixador indiano em Buenos Aires, Dinesh Bhatia, informou ao jornal Clarín que o governo do país não aprovou até o momento a fabricação da Sputnik V pelos laboratórios nacionais. Fontes informaram ao jornal argentino que a Coreia do Sul está fabricando o imunizante russo.
As poucas doses que o governo argentino obteve até agora devem-se a gestos políticos do presidente Vladimir Putin e após conversas com o presidente Alberto Fernández - 400 mil doses que chegaram na semana passada e as 820 mil recebidas entre dezembro e janeiro.
"Esta semana chegarão 580 mil doses da Covishield, com tecnologia AstraZeneca. Mas não há notícias da vacina russa", diz o Clarín.