Ninguém duvidava de que Donald Trump seria absolvido no processo de impeachment inédito a que o ex-presidente fora submetido. Para cassar seus direitos políticos, seriam necessários 67 votos no Senado (os 50 democratas mais 17 republicanos, pelo menos). Mas o máximo que os detratores de Trump conseguiram angariar no partido rival foram sete votos. Faltaram 10.
Resultado: Trump foi absolvido.
O que esperar? Que volte a se candidatar em 2024, com grandes chances de se eleger novamente.
Trump tem amplo apoio das bases. Prova disso foi sua grande votação - mais de 74 milhões de eleitores, a segunda maior da história de um candidato presidencial nos Estados Unidos, perdendo apenas no voto popular para Joe Biden.
Outro fator que alimenta a possibilidade de Trump voltar daqui quatro anos é a absoluta falta de opção do Partido Republicano. Nenhum outro político da legenda é tão popular quanto Trump. Quatro anos são suficientes para criar novos nomes nacionais, mas dificilmente surgirá alguém que consiga capturar os corações e mentes republicanas, que se radicalizaram de 2016 para cá, tão bem quanto o ex-presidente.
O que fica como legado do processo de impeachment? Um Partido Republicano dividido. Os sete senadores que traíram Trump e votaram pelo impeachment já sofrem, desde sábado (13), retaliações internas (com ameaças de punição e expulsão) e externas, sendo perseguidos em redes sociais.
Os argumentos dos que votaram absolveram o ex-presidente também permite classificá-lo em grupos: há os que têm convicção de que Trump não teve culpa nenhuma no ataque ao Capitólio, seguindo uma fidelidade cega ao ex-presidente.
Há os que se apegaram ao caráter constitucional do processo - entendem que Trump é culpado pela incitação à violência contra o Poder Legislativo, mas consideram o processo de impeachment inconstitucional porque ele não está mais no cargo. Nesse grupo, está o poderoso senador Mitch McConnell, fiel escudeiro de Trump nos últimos quatro anos, mas que vem se afastando do ex-presidente desde o episódio no Congresso.
- Não há dúvida de que Trump foi prática e moralmente responsável por provocar os eventos - reiterou. - As pessoas que invadiram esse prédio acreditaram que estavam seguindo ordens de seu presidente.
No terceiro grupo, estão aqueles que julgaram que faltavam provas materiais que ligassem as falas e posts de Trump com a invasão do Congresso.
O ex-presidente se livrou do julgamento político, mas uma série de outras batalhas legais o aguardam. O mais recente é o processo criminal aberto por promotores na Geórgia pela tentativa de Trump de interferir na apuração dos votos no Estado, nos dias que se seguiram à eleição de novembro, quando ele pediu ao secretário de Estado local que "encontrasse" votos no condado de Fulton.
Em Nova York, ele enfrenta uma investigação civil sobre suposta fraude imobiliária por parte da Organização Trump - a construção de um prédio de 92 andares chamado de Trump International Hotel & Tower, em Chicago. A procuradoria diz que ele não pagou impostos sobre os investimentos nessa construção - houve um perdão de dívidas do presidente de mais de US$ 287 milhões acumuladas desde 2010.
The New York Times publicou em setembro que Trump pagou apenas US$ 700 de imposto de renda em 2016 (sim, você leu corretamente, US$ 700). E nada por 10 dos últimos 15 anos. Se os promotores decidirem abrir uma investigação, ele pode ser condenado por fraude fiscal federal. Trump, aliás, nunca revelou seu imposto de renda, nem antes nem durante as campanhas presidenciais.
Há ainda esqueletos no armário da época da campanha de 2016. Gravações mostraram que o então candidato se gabava de agarrar mulheres pela genitália sem seu consentimento. Seu ex-advogado Michael Cohen teria comprado o silêncio de uma atriz pornô e uma modelo da PLayboy, que teria mantido relações sexuais com Trump. Cohen foi condenado em 2018 a três anos de prisão por financiamento ilegal de campanha, mas alegou ter agido por ordens de Trump.
Sobre a suposta trama russa para influenciar a eleição de 2016, o promotor Robert Mueller, após dois anos de investigação, não encontrou evidências de que ele tenha conspirado. Mas Trump não foi inocentado por tentativa de obstrução da Justiça. O Departamento de Justiça pode ressuscitar a investigação.