Tudo indica que Donald Trump, o único presidente a sofrer dois processos de impeachment enquanto exercia o mandato e o primeiro a ser julgado politicamente mesmo estando fora da Casa Branca, deve se safar de novo.
O Senado dos Estados Unidos começou na terça-feira (9) a debater em plenário se condena ou não Trump por incitar o ataque ao Capitólio, de 6 de janeiro. Já que ele não pode ser afastado do cargo (por já estar fora), os senadores avaliam se o ex-presidente terá seus direitos políticos retirados - ficando, assim, inelegível a cargos públicos.
A votação sobre a constitucionalidade do processo, na própria terça-feira (9), foi um termômetro da força do trumpismo na política americana em geral e entre os republicanos em particular. A votação para que o julgamento fosse adiante foi de 56 a favor contra 44 contrários.
Os partidos Democrata e Republicano têm, cada um, 50 cadeiras no Senado. O voto de desempate é da vice-presidente da República, que, nos EUA, também exerce a presidência da Casa, Kamala Harris.
Entre os 56 votos a favor da continuidade do processo, estão todos os 50 democratas e seis republicanos que se uniram a eles contra Trump. É pouco, menos deserções do que o esperado.
Na votação final, para cassar os direitos políticos do ex-presidente, são necessários 67 votos (dois terços da Casa). Logo, os democratas precisam atrair mais 11 republicanos para o seu lado. Praticamente impossível.
Enfraquecido pela derrota na eleição presidencial, o Partido Republicano está refém de Trump. Ainda que muitos dos caciques da legenda o rejeitem, como Mitt Romney e outros, a maioria dos parlamentares sabe que precisa do trumpismo para seguir relevante na política americana. Mesmo perdendo a eleição, o ex-presidente conquistou 74 milhões de votos, é a segunda maior votação da história - o título de maior pertence a Biden.
Nem todos os eleitores republicanos idolatram Trump. Mas episódios como o da invasão do Capitólio e um simples passeio por redes sociais demonstram que há uma guinada radical da base. São pessoas que aderiram à narrativa de Trump inclusive segundo a qual a eleição foi fraudada.
Sem opções em nível nacional para voltar com força ao páreo em 2024, os republicanos ainda dependem da popularidade de Trump. Ainda mais porque, antes do distante pleito presidencial, há a chamada eleição de meio de mandato, em 2022. Daqui um ano e meio, todas as 435 cadeiras da Câmara dos Deputados e um terço do Senado (34) estarão em disputa. Recuperar a Câmara (normalmente essa votação pune o presidente que está na Casa Branca, Trump foi exceção) é o primeiro lance para voltar a Casa Branca. De olho nos mandatos, os republicanos estariam, ao votar pelo impeachment, brincando demais com a sorte.