Muito da excepcionalidade sueca diante do coronavírus se deve aos limites aos poderes do governo para implementar medidas mais intrusivas, que restringem liberdades individuais, como o lockdown.
Ao ir na contramão do restante da Europa, no auge da primeira onda da pandemia, havia o entendimento de que, como em uma maratona, era preciso manter o ritmo cadenciado dos passos, evitando o cansaço logo no início da competição. Por isso, o governo apostou em manter o comércio e as empresas funcionando, para não asfixiar a economia, e por entender que medidas restritivas acabariam por exaurir a população a médio prazo. A chave era acreditar no bom senso dos suecos, em evitar aglomerações e manter o distanciamento. Resultado: enquanto metrópoles de França, Espanha e Itália se fechavam, na Suécia as pessoas seguiam com suas vidas praticamente normais, frequentando restaurantes, bares e praças.
A história, já comentei, irá julgar se deu ou não certo. O fato é que, pouco a pouco, o governo começa a mudar o tom do discurso - e a introduzir ações mais restritivas diante do aumento dos casos de covid-19. No mês passado, o primeiro-ministro Stefan Lofven reduziu o limite de pessoas em eventos de 300 para oito.
- Essa é a nova norma para toda a sociedade, para toda a Suécia. Não vá a academias, não vá a bibliotecas, não organize jantares, não faça festas. Cancele - disse.
Nesta quinta-feira (10), a chefe do Serviço de Saúde de Estocolmo, Bjorn Eriksson, afirmou:
- Já chega. Simplesmente não pode valer a pena tomar drinques depois do trabalho e correr para comprar presentes de Natal. As consequências são horríveis.
Por trás da tática menos restritiva, há também a legislação. O Executivo tem limitações legais para impor o lockdown, por exemplo.
Agora, um projeto de lei em análise no parlamento pode dar ao primeiro-ministro mais poderes para coibir aglomerações, alterar horários de funcionamento de estabelecimentos e, inclusive, determinar o confinamento da população, se necessário.
O debate sobre a mudança na lei ocorre no momento em que o país começa a viver a segunda onda. Nesta quinta-feira (10), conforme a Agência de Saúde Pública da Suécia, a nação registrou um recorde de 7.935 casos de covid-19 e 58 mortes. Na capital, Estocolmo, a taxa de ocupação das UTIs chegou a 99% na quarta-feira (9).
Segundo a Universidade Johns Hopkins, o país contabiliza, desde o início da crise, 7.354 mortes e 312 mil infectados.