
"A vida tem de continuar: como a Suécia enfrentou o vírus sem lockdown", dizia, em tom elogioso o título de uma reportagem do The New York Times, em 28 de abril. O texto mostrava que, enquanto boa parte da Europa se fechava em casa para conter o coronavírus, os suecos continuavam frequentando restaurantes, andando de bicicleta, indo a parques e aproveitando os primeiros raios de sol da primavera no Hemisfério Norte.
Desde o início da crise, a nação da escandinávia recebeu elogios por manter aberta sua economia - inclusive a indústria -, ainda que sob regras moderadas de distanciamento social. Enquanto a maioria dos governos buscava achatar a curva de contágio, para evitar a sobrecarga e o colapso dos recursos de saúde, a Suécia optou, ainda que não explicitamente como o Reino Unido, por um esforço de aumentar a imunidade de rebanho em vez de atrasar a propagação da doença até uma vacina seja descoberta.
Desenvolvida por cientistas e adotada pela Agência de Saúde Pública, a estratégia de não impor quarentena se baseou na ideia de que medidas voluntárias de distanciamento são mais eficazes do que um bloqueio total, principalmente porque o surto será duradouro – e, em algum momento, como estamos vendo no Brasil, a pressão pela reabertura cresce. As mortes, de acordo com essa ideia, se concentrariam no começo da crise e diminuiriam no médio e longo prazos.
O problema é que não é exatamente o que está ocorrendo. A curva cumulativa de óbitos é ascendente. Não se estabilizou como em outras nações. Os registros diários mostram sobe e desce dos índices, com picos de 107 óbitos em 30 de abril e 124 no dia seguinte. Nas últimas 48 horas, foram 175 perdas.
Pesquisadores críticos da estratégia têm recarregado as armas para atacar a ideia. Em abril, 22 especialistas pediram ao governo que altere a política: "Fechem as escolas e restaurantes", pediam. As autoridades insistiram na estratégia. E, agora, voltam a criticadas. Boa parte da comunidade científica defende que, ao menos uma parte da sociedade deveria ter sido temporariamente isolada - em especial os idosos. O governo sueco admite que o coronavírus se espalhou por cerca de 75% dos 101 lares de Estocolmo, por exemplo.
Em um mês, o número de mortos em todo o país aumentou em 2 mil (de 401 em 6 de abril para 2.854 em 6 de maio) e o de infectados em 16 mil. Essas incertezas significam que não há garantia de que o governo tenha acertado na resposta - é ainda muito cedo pra dizer, sobretudo diante do risco dos assintomáticos.