Sabíamos que essa não era uma corrida de 100 metros. Que exigiria resistência física e psicológica, momentos de desânimo, resiliência e quedas pelo caminho. Uma maratona.
Agora, o mundo enfrenta, ao que tudo indica, os minutos finais da corrida pela vacina. É hora do sprint, aquele que vai definir a vida sob covid-19 pelos próximos meses.
Um levantamento feito pela Universidade Johns Hopkins mostra que o mundo voltou a bater recorde diário de mortes por coronavírus na terça-feira (17). Foram 11.099 óbitos em 24 horas, o maior desde o início da pandemia, quando o vírus surgiu na China, em dezembro de 2019.
Em outras palavras, houve o pico em março, abril e maio na Europa, o nosso momento mais difícil em junho, julho e agosto no Brasil/Rio Grande do Sul, mas o fato é que, como habitantes de uma aldeia global, a terça-feira, 17 de novembro de 2020, foi o dia de nossa maior tragédia como humanidade.
As boas notícias sobre a corrida pela vacina chegam no momento em que o inverno se aproxima do hemisfério norte, a Europa começa a se fechar de novo, e os Estados Unidos voltam a ficar em alerta - com alguns Estados, como Nova York, já retomando a proibição de aulas presenciais. A segunda onda já é realidade lá, enquanto, por aqui, ainda vivemos as idas e vindas, com risco de novas restrições, da primeira.
Venha de onde vier, a vacina eficaz e segura será bem-vinda. Na metáfora da maratona, Pfizer e Moderna, ambas americanas, atingiram a dianteira nos últimos dias. Os pesquisadores da primeira anunciaram que seu produto, em parceria com a alemã BioNTech, tem eficácia de 95%, de acordo com resultados de fase 3. Os produtores da segunda garantem que sua imunização apresentou eficácia superior a 90%.
Mas, ainda na ideia da corrida de longa distância, a de Oxford, em parceria com AstraZeneca, é a que apresenta mais regularidade. Nesta quinta-feira (19), disse que seu produto induz resposta imunológica em adultos de todas as idades.
É que, enquanto nem Pfizer nem Moderna publicaram seus últimos dados em uma revista científica, Oxford, ainda que em fase 2, abriu seus resultados na The Lancet, o mais importante paper mundial de medicina. As duas empresas americanas prometem publicá-los, e a Pfizer já faz propostas ao governo brasileiro.
A publicação em uma revista científica é extremamente importante não apenas para legitimar a descoberta perante a comunidade científica internacional, mas porque permite que os achados sejam escrutinados por pesquisadores independentes.
Qualquer que seja a data do anúncio da vacina e a liberação para uso em massa pelos órgãos regulatórios de cada país, o resultado até aqui já é histórico e inédito: nunca a humanidade avançou tão rapidamente na descoberta de uma vacina, respeitando-se critérios de segurança inegociáveis, mas acelerando regramentos em nome da urgência global.
A ciência está fazendo a sua parte. Agora, é hora de os governos e diplomacias fazerem a sua para garantir parcerias, compra, logística e distribuição igualitária - ou ao menos com o mínimo de desigualdade possível.