No dia em que o mundo lembra os 19 anos dos maiores atentados terroristas da história, os Estados Unidos podem dizer que cumpriram o objetivo principal que nasceu na manhã de 11 de setembro de 2001: a eliminação da rede Al-Qaeda, de Osama bin Laden, mente doentia por trás daqueles atos. Hoje, a organização extremista está debilitada, contando apenas com alguns remanescentes, sem capacidade de captação de novos integrantes e muito menos dinheiro para realizar assassinatos em massa como os daquela terça-feira. Do famoso baralho de George W. Bush, com as caras dos ideólogos do grupo, sobrou apenas o médico Ayman al-Zawahiri, entocado em alguma caverna ou vilarejo.
Os atentados de 11 de setembro de 2001 em Nova York e Washington levaram os EUA a duas guerras – a do Afeganistão, base da Al-Qaeda, e, por extensão, a do Iraque. O falacioso argumento da existência de armas de destruição em massa escondia a intenção de mudança de regime no segundo caso.
Se o Iraque está melhor ou pior do que na época de Saddam Hussein é assunto para outro texto, mas não se pode esquecer que um novo grupo terrorista, o Estado Islâmico (EI), mais mortal do que a Al-Qaeda, surgiu das cinzas da rede de Bin Laden.
Os barbudos, que queriam implantar seu califado de mentiras, eram subproduto da tomada de Bagdá, que abrira a caixa de pandora iraquiana.
O EI, que chegou a dominar um terço do país, também foi neutralizado, embora ainda seja capaz de realizar ações mortais com pouca tecnologia e a baixo custo. O número de ataques de menor potencial ofensivo começou a crescer no início de 2020. Mas, embora adeptos solitários, sem vínculo direto com o grupo, ainda possam provocar danos mundo afora, a organização não é nem sombra do que foi um dia.
O presidente Donald Trump esperou a data mais triste da história americana recente para anunciar a retirada de 2,2 mil militares do Iraque. Embora não seja a totalidade do efetivo (sobrarão 3 mil), ao reduzir o número de homens e mulheres ao nível de 2015, poderá dizer aos eleitores, a menos de dois meses da disputa presidencial, que cumpriu a promessa de encerrar “as guerras intermináveis”.
Trump não é grande leitor de História, mas ela ensina a evitar o “missão cumprida” – que o diga Bush, que em 2003 aterrissou em um porta-aviões para celebrar o fim dos principais combates no Iraque, quando eles estavam apenas começando. Como se sabe, começar guerras é fácil.
O difícil é terminá-las. Nas relações internacionais, qualquer ação de um país tem reflexos além das fronteiras nacionais. A saída americana do Iraque terá efeitos diretos na estabilidade do Oriente Médio. Ganha o Irã.
O governo iraquiano vinha sendo pressionado pelos persas, com apoio de milícias no terreno, a “expulsar” os soldados americanos. Trump pode até agradar a seus eleitores ao trazer de volta para casa os filhos da América, mas corre o risco de entregar o Iraque de bandeja aos aiatolás.