Oficialmente, o debate de hoje, o primeiro duelo na TV entre Donald Trump e Joe Biden, terá como temas principais a sucessão na Suprema Corte, o coronavírus e o racismo.
Mas, durante os seis blocos de 15 minutos cada do encontro, na Universidade Case Western Reserve, em Cleveland, Ohio, há muitos outros assuntos que irão emergir ou porque estão entrelaçados, como a crise econômica e o desemprego, principal preocupação dos eleitores, ou porque integram o contexto da sociedade americana, extremamente dividida, que se aproxima da eleição. A coluna escolheu 10 tópicos para prestar atenção no encontro.
1 Economia
Até 10 meses atrás, Donald Trump era imbatível para o segundo mandato graças à economia. Os Estados Unidos cresciam a níveis esplêndidos, e o desemprego apresentava a maior queda em 50 anos. Mas veio a pandemia, e a taxa de pessoas sem trabalho chegou a 14,7% em abril. Trump deve se apegar à recuperação – segundo o Departamento do Trabalho dos EUA, 4,8 milhões de pessoas retomaram seus postos. A taxa de desemprego caiu para 11,1%. O presidente também deve lembrar aos americanos que, não fosse o coronavírus, o país estaria em patamares pouco vistos desde a Segunda Guerra Mundial.
2 Racismo e violência policial
O tema divide os americanos. A morte de George Floyd e os abusos contra Jacob Blake escancararam o segregacionismo. Mas, se este é o calcanhar de Aquiles de Trump, um político visto como racista, é também um tema que permite ao republicano se vangloriar daquilo que mais conquista sua base eleitoral: a ideia de se mostrar um presidente da “lei e da ordem”. Trump considera baderna as manifestações deflagradas por manifestantes contra o abuso policial e contra o racismo. Biden deve salientar lemas como Black Lives Matter, prometendo reforma policial e atacando Trump sobre o envio de tropas federais para cidades onde havia protestos.
3 Pandemia
Nesse tema, Biden tem tudo para tirar pontos de Trump, que lidera a nação com maior número de mortes e infectados por coronavírus e que negou por boa parte do tempo a gravidade da situação “para não provocar pânico”, como denuncia o novo livro do jornalista Bob Woodward. O presidente deve repetir o discurso segundo o qual nenhum outro país lidou tão bem com a pandemia quanto os EUA (o que é mentira) e que buscou equilibrar cuidados com a saúde e a preservação da economia. Deve culpar governadores democratas pelos impactos do coronavírus, principalmente os que defenderam o confinamento da população.
4 Suprema Corte
Esse é o fato novo da campanha. A morte da juíza Ruth Ginsburg e a indicação de Amy Coney Barrett para a máxima instância judicial dos EUA levantam questões legais e morais. Primeiro porque, se Barrett for aprovada pelo Senado, o tribunal ficará com seis magistrados conservadores e três progressistas – caso o resultado da eleição seja disputado na Corte, Trump terá vantagem. Segundo porque indicar uma juíza a quatro meses do final do mandato é imoral na visão de muitos parlamentares – inclusive republicanos, que, em 2016, barraram a indicação de Obama a sete meses de deixar o mandato.
5 Comparações
O debate será uma bela oportunidade de se comparar feitos de governo, uma vez que tanto Trump quanto Biden exerceram cargos no Executivo. O atual presidente deve a todo momento tentar ligar o rival aos pontos fracos do governo Obama – a renda em queda das famílias, escândalos de espionagem de aliados e suposta leniência com a China. Biden dirá que Trump ameaça a democracia, que ele isolou os Estados Unidos do resto do planeta e que a América perdeu a capacidade de liderar o mundo livre.
6 Imposto de Renda
Outro fato novo da disputa. A denúncia, feita pelo jornal The New York Times, de que Trump pagou apenas US$ 750 de Imposto de Renda em 2016 e 2017 deve ser explorada por Biden. Segundo a reportagem, por 10 anos, o bilionário não teria pago ao fisco. O presidente deve repetir que não há provas e que a denúncia é parte de um suposto complô da imprensa para atacá-lo.
7 Questões pessoais
Trump é um showman, vê o debate como palco onde costuma exibir sua facilidade de comunicação. Biden é professoral, low profile, o que o prejudica em um duelo frente a frente na TV. O presidente deve atacar o adversário no nível pessoal – no Twitter, costuma chamá-lo de “dorminhoco” – e levantar dúvidas sobre sua sanidade mental. Por outro lado, Trump costuma se irritar com facilidade, ponto a ser explorado pelo democrata.
8 Caso Ucrânia
Trump sofreu um processo de impeachment que foi abortado no Senado. O assunto pode ressurgir no debate, trazido pelos democratas para desgastar a imagem do rival. Trump é acusado de ter condicionado ajuda militar à Ucrânia a uma investigação, pelo governo daquele país, sobre os negócios da família Biden. Mas o democrata também tem teto de vidro. Como vice de Obama, é acusado de ter incentivado a demissão do principal promotor da Ucrânia, em 2015, porque ele estava investigando uma empresa de energia que empregava seu filho.
9 O palco do debate
Ohio é um swing state, um dos Estados-chave da eleição. Pesquisa da Quinnipiac University mostra empate técnico (Biden 48%, Trump 47%) lá. Estudo da Fox News dá vantagem ao democrata (Biden 50%, Trump 45%). Quem ganha em Ohio leva 18 delegados do Colégio Eleitoral.
10 Pesquisas
Biden chega ao duelo com vantagem de 6,9 pontos percentuais à frente de Trump na média das pesquisas do site Real Clear Politics (49,8% contra 42,9%). Na média nos principais Estados-chave, a vantagem diminui para 3,7 pontos (48,8% contra 45,1%).