Os debates entre os presidenciáveis nos Estados Unidos costumam inaugurar a fase decisiva da eleição americana. Em tempos de pandemia, com comícios e eventos públicos bastante restritos, os duelos pela TV dobram de importância. O primeiro encontro entre Donald Trump e Joe Biden, na próxima terça-feira (29), seria um momento para os dois candidatos aquecerem os motores, estudarem o adversário e não se exporem demais. No entanto, há tantos temas fundamentais a serem tratados que o primeiro duelo não será morto.
Esta eleição é mais do que uma disputa pela Casa Branca. É sobre valores americanos e sobre que tipo de nação emergirá a partir de 3 de novembro. Para o encontro, na Universidade Case Western Reserve, em Cleveland (Ohio), o moderador Chris Wallace, da Fox News, questionará os postulantes sobre a polêmica sucessão na Suprema Corte, a covid-19, economia, violência urbana e a integridade do processo eleitoral, uma vez que Trump tem repetidas vezes questionado a lisura da eleição. Cada segmento vai durar 15 minutos, sem intervalos comerciais. Os candidatos terão dois minutos para responder ao moderador. O restante do tempo será usado por Wallace para aprofundar os temas _ é comum, nos Estados Unidos, o âncora interromper o candidato que tergiversa ou explorar pontos das perguntas, caso algo não fique claro na resposta.
Após a terça-feira, haverá outros dois encontros entre os dois: em 15 (em Miami, Flórida) e 22 de outubro (em Nashville, Tennessee). No dia 7, os candidatos à vice-presidência, Kamala Harris e Mike Pence, duelam em Salt Lake City, Utah.
Trump, o mais dependente dos eventos presenciais, pela conexão que costuma estabelecer com seus eleitores no corpo a corpo, costuma dizer que não se prepara para os debates _ ainda que, nos bastidores, saiba-se que ele estuda, sim, linhas de ataque e de defesa. Mas o presidente é, de fato, um showman, tem experiência como apresentador de TV e costuma fazer do palco do duelo uma performance, como se estivesse em uma mesa com clientes, tentando vender seu produto. Biden é mais low profile, não costuma entusiasmar nessas situações. Mais professoral, como Barack Obama, acaba não sendo muito efetivo junto ao público. Sua performance não foi das melhores em debates de vices, em 2008, contra Sarah Palin (companheira de chapa de John McCain) e em 2012, contra Paul Ryan (de Mitt Romney). Em 2020, ele tem munição: a tragédia da covid-19 nos EUA, país com maior número de óbitos do mundo, o negacionismo de Trump, o racismo, a violência policial. Resta saber como usará esses temas para enfrentar o adversário que tentará colar no adversário o rótulo um líder fraco e idoso (Biden tem 77 anos, Trump, 74) e, sobretudo, colocar uma pulga atrás da orelha do eleitor sobre a validade de seu voto.