Lá se vão 22 dias de protestos de manifestantes nas ruas, desde a eleição fraudulenta de Alexandr Lukashenko, e o governo escancarou sua face autoritária.
O país tem, cada vez mais, jeito, cheiro e cara de estar nas mãos de uma autocracia: mais de 70 sites noticiosos foram bloqueados pelo governo, jornais impressos não conseguem imprimir e circular e opositores foram, de novo, presos - 7 mil ativistas detidos apenas nos três primeiros dias após o pleito.
O mais recente gesto autoritário de Lukashenko, que tenta se equilibrar no poder, onde está entronado há 26 anos, é cancelar credenciais de jornalistas de veículos internacionais – entre eles, representantes de AFP, AP, BBC e Radio Liberty. Ora, o que quer o governo com isso? Que o mundo não saiba o que ocorre dentro das fronteiras de Belarus. O modus operandi é conhecido: é o que fazem regimes de direita e de esquerda, autocratas quando desejam ocultar, do planeta, seus desmandos. Eu mesmo já tive minha entrada proibida na Síria de Bashar al-Assad no auge da guerra e fui detido por tirar uma foto na Venezuela de Nicolás Maduro. Ditaduras não gostam de jornalistas - ao menos não dos independentes, que não estão dispostos a lamber suas botas.
Mas, assim com na Síria e na Venezuela, a população de Belarus é brava e tem recorrido às redes sociais para expor ao mundo seu drama. Lá, como na Venezuela, na Síria, na Coreia do Norte e em outras tantas, manifestações só são permitidas com autorização prévia do governo - as contrárias, são consideradas ilegais.
Mesmo assim, dezenas de milhares de pessoas saíram às ruas neste domingo (30) em Minsk, a capital de Belarus, para protestar pelo terceiro fim de semana consecutivo contra a reeleição de Lukashenko, apesar da grande presença de forças de segurança, que efetuaram dezenas de detenções. Não à toa, o presidente, como todos os ditadores que conhecemos, se apegam, sob pressão, às armas. A assessoria de imprensa de Lukashenko divulgou uma foto do presidente com um colete à prova de balas e um fuzil de assalto na mão.
Os resultados das eleições foram rejeitados pela União Europeia, que está preparando um pacote de sanções contra funcionários de alto escalão do governo de Belarus. A UE pediu a Lukashenko um diálogo com a oposição.
O presidente se recusa a fazer qualquer concessão e denuncia um complô ocidental para derrubar seu governo.
Até o momento, ele conta com um apoio prudente de seu aliado mais próximo, o presidente russo, Vladimir Putin, que afirmou estar disposto a intervir no território vizinho, caso os protestos se tornem mais graves. Para Putin, quanto pior, melhor. O líder russo, que já interveio na Geórgia, arrancou um naco de terra da Ucrânia, a Crimeia, só está esperando para agir em Belarus.