Em 24 de março, a Índia, país com 1,3 bilhão de habitantes, tinha 499 infectados com o coronavírus. Foi quando o governo decidiu implementar o maior confinamento da história e um dos mais restritivos do mundo.
Semanas depois, em abril, a rede britânica BBC comentava o mistério no país das megalópoles densamente povoadas, como Neva Délhi, Mumbai e Calcutá, que surpreendia devido aos baixos índices de mortalidade e de infecção. A prestigiada revista médica The Lancet afirmava: "O bloqueio já está tendo o efeito desejado de achatar a curva epidêmica".
Mas em 12 de junho o país começou a sair do confinamento. Registrava 297 mil casos. O isolamento social gerara uma situação dramática do ponto de vista econômico e produzira imagens pouco habituais ao mundo capitalista, acostumado a ver o êxodo de populações deixando o meio rural em busca de oportunidades de trabalho (e por sobrevivência) nas grandes cidades. A Índia, em um êxodo reverso, começou a exibir ao planeta cenas de milhões de pessoas abandonando as capitais caminhando pelas estradas de volta a seus vilarejos de origem (só de Mumbai saíram 1 milhão).
Rivalizando com o coronavírus, o confinamento era uma sentença de morte para muitos que moravam nas cidades de um país onde 90% da população vive do trabalho informal, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT).
O lockdown ficou insustentável.
O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, imita os passos do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Mas, na pandemia, não espelhou completamente seu ídolo americano: tentou fazer o desconfinamento organizado. Primeiro, os trens e ônibus voltaram a circular, depois, shoppings, restaurantes e templos reabriram, com devidas precauções de distanciamento e higiene. Seria uma abertura gradual, mas logo a situação saiu do controle por razões, desta vez, que tanto os Estados Unidos quanto o Brasil conhecem bem: divergências entre governo central e governadores. Ritmos diferentes de abertura e alguns muito aceleradamente. Resultado: a curva epidêmica se acentuou, os números explodiram. Nesta segunda-feira (6), a Índia ultrapassou a Rússia em número de casos de covid-19, ocupando, agora, o terceiro lugar, atrás de Estados Unidos e Brasil. E caminha para se tornar o segundo.
Segundo o professor Álvaro Krüger Ramos, do Departamento de Matemática Pura e Aplicada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), se as condições atuais se mantiverem, o país asiático deve ultrapassar o Brasil em 22 de agosto. Pela projeção do pesquisador, nesse dia, a Índia somaria 3.717.031 infectados, contra 3.705.669 do Brasil.
- Nos dois países, as curvas de infecção estão em aceleração - pontua Ramos, salientando que, embora a aceleração da Índia seja maior do que a do Brasil, a nação asiática tem menos da metade de infectados do que nós.
Já em incidência de coronavírus por 100 mil habitantes, a Índia levaria ainda mais alguns meses. Pelas estimativas do professor, por volta de 16 de novembro o país teria maior percentual do que o Brasil.