O coronavírus não poupou líderes políticos que, como Jair Bolsonaro, negaram a gravidade da pandemia, mas também se tornaram vítimas dela.
Antes do presidente brasileiro, um dos mais conhecidos negacionistas da doença - e que virou alvo da pandemia - foi o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, que precisou ser auxiliado por equipamentos de oxigênio, ficou na UTI do Hospital St. Thomas, em Londres, após ser diagnosticado com a doença, diante de sintomas como febre persistente e tosse.
Antes da covid-19 chegar a Downing Street, Johnson era um dos mais conhecidos negacionistas entre os políticos mundiais, o que fez com que os britânicos não tomassem cuidados. Contrário à orientação de muitos pesquisadores, ele inclusive tentou implementar uma estratégia de imunidade de rebanho, que não deu certo. Com os números da pandemia explodindo no reino de Sua Majestade e recuperado dos piores momentos (segundo suas palavras, “qual as coisas poderiam ter ido paraqualquer um dos lados”), o chefe do Executivo britânico de 55 anos apertou as medidas de restrição de deslocamento, com lockdown (fechamento obrigatório).
O vírus levou Johnson a uma mudança drástica na resposta à pandemia. Integrantes de seu governo não tiveram a mesma sorte. Um diplomata escocês e vice-chefe da missão na embaixada britânica em Budapeste, Steven Dick, de 37 anos, morreu de covid-19.
Na Itália, primeiro país do Ocidente a encarar o vírus, políticos de extrema-direita, conhecidos por negarem as evidências científicas, também se tornaram vítimas da doença. O mais conhecido deles é o vereador Nelio Pavesi, vereador de Piacenza pelo partido Liga. Ficou vários dias internado, mas não resistiu.
Há aqueles políticos que não pegaram o vírus, negaram a doença, e veem, da janela de seus palácios, os corpos de seus concidadãos se acumularem. O presidente americano, Donald Trump, de 74 anos, é o mais conhecido deles. Fez dois testes para covid-19 (que deram negativo), disse que a doença não era mais grave que a gripe comum e não exigiria a paralisação da economia.
O coronavírus, no entanto, cruzou o Atlântico, pegou em cheio sua Nova York, e de março a junho, os Estados Unidos foram galgando posições no ranking da desgraça, tornando-se o país com maior número de doentes (2,8 milhões) e mortos (129,6 mil). A pandemia ameaça não só a economia americana como pode acabar com seus planos de reeleição, em novembro.
Aleksandr Lukashenko, presidente de Belarus, conhecida como a última ditadura da Europa, disse que a pandemia não é mais que uma “psicose” coletiva. Enquanto seu país se aproxima dos 64 mil casos, ele fica pé contra as recomendações da Organização Mundial da Saúde e aconselha infectados a beber vodca.
No Irã, que teve a cúpula do regime atingida pelo vírus (com a morte de parlamentares e aiatolás mortos em decorrência da doença), não houve negação da gravidade da doença, mas ceticismo sobre sua origem. O aiatolá Ali Khamenei chegou a afirmar que o coronavírus podia ser parte de um ataque biológico ao país.
Sobre três dos mais conhecidos autocratas que negam a doença - Daniel Ortega, da Nicarágua, Gurbanguli Berdimikhamedov, do Turcomenistão, e Kim Jong-un - não é possível saber sua condição de saúde nem o grau da devastação da doença em seus países devido à censura e a à falta de transparência. Mas Kim ficou desaparecido por alguns dias, em maio, quando foram levantadas suspeitas de que teria sido infectado pelo vírus.