Dizer que Joe Biden está 14 pontos percentuais à frente de Donald Trump não explica totalmente por que a campanha do presidente americano caminha para a derrota em 3 de novembro, se nada for feito para reverter, em cinco meses, esse cenário.
Para compreender as razões de a candidatura Trump ter perdido tração – e Biden ter se consolidado como um candidato competitivo – é preciso observar uma ou duas camadas abaixo da pesquisa realizada pelo jornal The New York Times em parceria com o Siena College. No cômputo geral, se a eleição fosse hoje, Biden teria 50% da preferência, contra 36% de Trump. Isso não dá, de cara, vitória ao democrata porque, quem de fato decide, não é o voto popular, mas o colégio eleitoral. Em 2016, Trump perdeu a disputa geral por dois pontos em relação a Hillary Clinton (48,2% da democrata contra 46,1% do republicano), mas ganhou no órgão (304 votos a 227) que determina o vencedor.
A chave para entender a disputa eleitoral americana – compreender por que Trump pode estar iniciando uma caminhada ladeira abaixo – é observar o comportamento do eleitor nos Estados. Uma fração detalhada da pesquisa, divulgada nesta quinta-feira (25), mostra o presidente com mais de dois dígitos atrás de Biden em pelo menos três unidades importantes da federação (Michigan, 11 pontos, Wisconsin, 11, e Pensilvânia, 10). Ele também não vai bem na Carolina do Norte (perde por nove pontos), Arizona (sete) e Flórida, um dos chamados swing states, seis pontos. Atenção: Trump venceu nesses seis estados em 2016. Ou seja, se o mapa eleitoral americano permanecer exatamente como o de quatro anos atrás, mudando-se apenas esses seis territórios, Biden somaria 333 votos no colégio eleitoral contra 205 de Trump. Para ser eleito, são necessários 270. Logo, ganharia com folga. Os 333 seriam superiores inclusive aos conquistados por Barack Obama na reeleição de 2012.
Tudo indica que Trump viu escapar eleitores de sua base. Isso porque maioria dos negros e migrantes (hispânicos, decisivos em qualquer eleição) rejeitam o republicano por princípio. Mas, mesmo nessas fatias do eleitorado, Biden tem vantagem maior do que Hillary. O que chama a atenção é o empate entre Biden e Trump entre o eleitorado homem, branco, de meia idade (50 a 64 anos) e idosos (mais de 65 anos), um perfil que normalmente é eleitor de carteirinha do presidente.
Não é possível ainda saber que impacto tiveram a pandemia (na qual os Estados Unidos registram o maior número de mortos e infectados no mundo) e a crise racial deflagrada pelo assassinato de George Floyd, mas, ao que tudo indica, a sensação é de que muitos votantes de Trump em 2016 desistiram do presidente porque ele falhou em dois dos maiores desafios de seu mandato.