Praticamente todos os países que registraram casos de coronavírus adotaram medidas de isolamento social. Mais de cem nações fecharam escolas e universidades, além de adiarem eventos. Todo o calendário esportivo mundial - incluindo a Olimpíada de Tóquio - parou na maioria deles. Acredita-se que um terço da população do planeta, cerca de 2,6 bilhões de pessoas, esteja em isolamento.
Mas, antes de adotar medidas drásticas, alguns líderes mundiais minimizaram a crise, negando dados científicos, como Donald Trump, nos Estados Unidos. O presidente, que vinha defendendo a redução de medidas de isolamento, abandonou no domingo (29) a ideia de liberar a economia na Páscoa e anunciou que o auge dos casos deve ocorrer em 15 dias.
Outros, como o primeiro-ministro italiano Giuseppe Conte, chegaram a entrar na Justiça para tentar evitar que municípios fechassem. Ele só decretou o lockdown quando o número de mortos crescia no país.
Alguns líderes se mantiveram coerentes com a decisão de apertar as medidas restritivas e observam certo controle nas estatísticas de infectados e óbitos. A chanceler alemã Angela Merkel é uma dessas autoridades, elogiada pela transparência e sensatez. Ela se impôs nos últimos dias quarentena, depois de ter tido contato com um médico que testou positivo para a covid-19.
No Leste Europeu e na Ásia, líderes aliados do presidente Jair Bolsonaro, como o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, e o presidente filipino, Rodrigo Duterte, decretaram a interrupção dos serviços não essenciais desde meados de março, mas têm sido criticados por se utilizarem da pandemia para concentrar poder.
Veja como cada presidente ou primeiro-ministro tem reagido à crise global.
Donald Trump mudou de opinião
Trump alterou o rumo dos Estados Unidos, no domingo (29), e estendeu a orientação de isolamento social no país até o dia 30 de abril. Com isso, desistiu da ideia de normalizar o comércio até o Domingo de Páscoa, dia 12, como havia prometido na semana passada. Assim, reverteu a estratégia de “reabrir” o país.
O presidente adotou uma postura errática em relação à pandemia e minimizou a gravidade da situação: primeiro comparou o vírus a uma gripe comum, mesmo quando autoridades de saúde de seu governo alertavam sobre o problema. Depois, chamou o coronavírus de “nova farsa” da oposição para derrubá-lo e disse que a imprensa estava “inflamando” a situação. Mas no dia 12 de março, quando os EUA contabilizavam 1,3 mil casos, foi à TV proibir voos provenientes da União Europeia (UE). A mudança de tom veio quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou pandemia, as bolsas de valores começaram a despencar e economistas passaram a alertar sobre o risco de recessão - a poucos meses da eleição, quando Trump tenta se reeleger.
Boris Johnson alterou a estratégia
Até a semana passada, quando foi decretada quarentena total no Reino Unido, Boris Johnson vinha se recusando a adotar medidas de isolamento social. O governo vinha defendendo a estratégia de isolar apenas os grupos vulneráveis, deixando que a população em geral fosse infectada - e assim tornasse o país imune -, tática chamada de imunidade coletiva. A multiplicação rápida de casos graves entre pessoas não vulneráveis, como jovens, tornou a estratégia inviável. O próprio Boris Johnson afirmou no dia 27 que contraiu a doença. No domingo (29) afirmou que a pandemia “ainda vai piorar antes de começar a melhorar” e fez um apelo para que as pessoas fiquem em casa.
- Protejam nosso sistema de saúde e salvem vidas - disse.
Macron fez eleição e depois apertou a quarentena
O presidente francês permitiu a realização do primeiro turno das eleições municipais, no dia 15 de março, quando o país já estava com restrições de mobilidade - e é duramente criticado por isso. Só no dia seguinte, Emmanuel Macron endureceu as medidas de deslocamento, impondo o confinamento e falando em “guerra” contra o vírus. Em apenas dois dias, mais de 4 mil multas (45 euros) foram aplicadas sobre pessoas que, sem justificativas, deixaram suas casas. Mas não foi suficiente, e o governo resolveu triplicar o valor. As autoridades destacaram cem mil homens e mulheres de suas forças para tentar fiscalizar as restrições. Além disso, quem circula precisa carregar um documento que atesta a necessidade de deslocamento.
Conte foi vencido pelo aumento das mortes
Em 28 de fevereiro, quando a Itália registrava 17 mortes, prefeitos e governadores pelo país começaram a tomar uma série de medidas restritivas para proteger a população, com fechamento de escolas e a proibição de aglomerações públicas. Desde o dia 23 de fevereiro,o governo fechara por completo 11 localidades da Lombardia e do Vêneto. Algumas regiões sem contágio, como Marche, decretaram a interrupção preventiva das aulas em escolas e proibiram aglomerações. Preocupado com a repercussão negativa dessas medidas no turismo e na economia, o primeiro-ministro Giuseppe Conte agiu para contestar essas decisões. E um tribunal acabou por suspende-la. Na Lombardia, os bares inicialmente foram proibidos de abrir à noite, medida que foi revogada dois dias depois.
O decreto de quarentena - intitulado “io resto a casa” (eu fico em casa) - começou a vigorar em 9 de março, suspendendo aulas, missas, funerais e competições esportivas, além de fechar comércios e estipular regras de circulação. Dois dias depois, o governo baixou novas regras, determinando o fechamento de bares e restaurantes em todo o país. O governo Conte, diante da tragédia do coronavírus no país, reconhece os erros de ter demorado a reagir e decretar o lockdown nacional.
Merkel manteve coerência
A chanceler Angela Merkel tem sido elogiada até pela oposição pela forma como tem lidado com a pandemia - e viu sua popularidade aumentar. Ela expandiu as restrições de quarentena no dia 23 de março, proibindo aglomerações públicas de mais de duas pessoas sob pena de uma multa de até 25 mil euros. Também ficou estabelecido que, em espaços públicos, deve ser mantida distância mínima de 1,5 metro. A própria chanceler entrou em quarentena depois de ter tido contato com um médico infectado.
Sánchez titubeou por 24 horas
No dia 14 de março, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, decretou confinamento nacional da população - permitindo que cidadãos saíssem de casa apenas para comprar comida, ir para o trabalho, para procurar atendimento médico ou ajudar os idosos e outras pessoas necessitadas. Todas as escolas, restaurantes e bares foram fechados. A medida reverteu um posicionamento de apenas 24 horas antes do premier, quando ele havia decidido esperar para decretar o confinamento. Naquela mesma noite, foi anunciado que a mulher de Sánchez, Bergoña Gómez, estava infectada.
Putin só agora encara a crise
O presidente russo fez seu primeiro pronunciamento em rede de TV somente um mês após o primeiro caso de infecção ser confirmado no país. Ele anunciou um feriado de uma semana no país - a partir de sábado (28) até 5 de abril, fechando todos os serviços não essenciais, Mas ainda não decretou quarentena. O feriado é visto como um ensaio para as medidas de confinamento mais drásticas que devem vir na semana que vem. Por enquanto, apenas pessoas com mais de 65 anos estão obrigadas a ficar em casa, mas há pouca ou nenhuma vigilância. A mudança de estratégia e o pedido para que as pessoas fiquem em casa veio uma semana depois de Vladimir Putin ter dito que a crise estava “contida”. Há suspeitas sobre o baixo número de infectados - e o próprio governo admitiu que isso se deve à subnotificação por falta de exames.
Netanyahu endureceu restrições desde o início
Mesmo em meio a uma crise política e após três eleições em menos de um ano, Benjamin Netanyahu tem dito, desde o início da crise, que não descartaria a quarentena.
O país tem adotado várias iniciativas para restringir a circulação de pessoas, com fechamento de escolas e universidades. Desde o dia 12 de março, anunciou o fechamento de escolas e universidades. Em 25 de março, o governo endureceu as regras e estabeleceu a proibição de sair de casa exceto em casos urgentes, e o fechamento de estabelecimentos comerciais não essenciais e parques. No dia 25, o primeiro-ministro afirmou que o número de pacientes dobrava a cada três dias e pediu enfaticamente que a população evitasse sair de casa.
- Digo isso de forma mais clara possível: vocês precisam ficar em casa. Fiquem em casa, fiquem seguros. O perigo espreita a todos - afirmou.
Nesta segunda-feira (30), o próprio Netanyahu entrou em quarentena preventiva depois que um funcionário de seu gabinete teste positivo para o coronavírus.
Orbán concentrou poderes na Hungria
O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, ordenou o fechamento de escolas, universidades e do comércio, com exceção de supermercados e farmácias, e a adiou a realização de eventos culturais e esportivos. Nesta segunda-feira, o parlamento aprovou uma lei que concede a Orbán poderes especiais, como legislar por decreto, prolonga indefinidamente o estado de crise e permite a prisão de até cinco anos para quem difundir informações falsas.
Duterte fechou ilha de 50 milhões de habitantes
O presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, impôs quarentena no dia 16 de março da ilha de Luzon, a mais populosa do país, com 50 milhões de habitantes e onde fica a capital, Manila. Ele decretou estado de calamidade por seis meses, o que tem sido visto como uma forma de ampliar seus poderes. Há denúncias de organizações de defesa dos direitos humanos de que pessoas que violem as regras estariam sendo punidas com violência policial.