Depois de bater cabeça por quatro anos, lambendo as feridas da derrota para Donald Trump, em 2016, enfim, o Partido Democrata tem um pré-candidato capaz de unificar a legenda e mobilizar eleitores.
Michael Bloomberg corre por fora — dispensou as primeiras quatro prévias —, abriu mão dos métodos tradicionais de financiamento de campanha nos Estados Unidos, injetando US$ 1 bilhão de sua fortuna pessoal de US$ 300 bi em marketing, e não dependendo de doações. Enquanto os adversários se embrenham nos debates e se desgastam nas disputas internas, Bloomberg está onipresente na sala de jantar dos americanos, pela TV, passando sua mensagem sem ser questionado.
Prova de que sua estratégia está dando certo, ao menos até agora, é que o Partido Democrata mexeu em suas próprias regras para permitir que Bloomberg participe do debate da noite desta quarta-feira (19), em Nevada – que realiza primárias no sábado, sem sua participação. Até janeiro, os candidatos precisavam ter um mínimo de doadores individuais para subir no palco dos duelos televisivos, mas como o político financia sua própria campanha, essa norma foi derrubada. Sinal de que os caciques da legenda estão vendo Bloomberg como um candidato forte, capaz de peitar Trump em novembro.
O debate na TV será sua primeira grande prova diante das câmeras, ao vivo. A onda Bloomberg, que o fez chegar ao segundo lugar nas pesquisas (atrás apenas do senador Bernie Sanders), ultrapassando o outrora favorito Joe Biden, ex-vice de barack Obama, se confirmará ou não a partir desta noite.
Contra Bloomberg até agora, só há o seu passado. Tem fama de camaleão político: foi a vida inteira democrata, mas, na hora de concorrer em uma Nova York traumatizada pelos atentados de 11 de setembro de 2001, virou a casaca para o lado republicano. Eleito prefeito da metrópole, implementou uma política de repressão à criminalidade que mirou, especialmente os negros e os latinos. Não é perdoado por isso até hoje - e esse público sempre foi eleitor cativo dos democratas, que o dia Hillary, que nunca os agradou. Seguindo sua cartilha, o empresário, dono de um conglomerado de tecnologia e notícias, virou independente e agora volta para as fileiras democratas.
O fato de o próprio partido jogar Bloomberg aos leões na noite desta quarta-feira contraria a estratégia inicial de Bloomberg – de mostrar-se pouco nesse primeiro momento, não dando a cara a tapa nas primeiras quatro prévias — Iowa, New Hampshire, Nevada e Carolina do Sul – normalmente vistas como decisivas para a arrancada. O empresário pretendia entrar na disputa apenas na Superterça, em 3 de março, quando 14 Estados e dois territórios realizam prévias. Agora, terá de mexer nos planos. Os debates – assim como a mídia nos EUA, em uma campanha onde não há horário eleitoral – têm potencial de fazer disparar ou naufragar candidaturas. A onda Bloomberg vai a teste.