Michael Bloomberg, dono do conglomerado de mídia e tecnologia que leva seu sobrenome, ainda não apareceu nas cédulas dos eleitores do Partido Democrata nas prévias de Iowa e New Hampshire — e nem estará nas duas próximas, de Nevada, no dia 22, e da Carolina do Sul, 29.
Mas seu rosto e sua voz são quase onipresentes nas salas de jantar e nos carros dos americanos. O pré-candidato, nona personalidade mais rica do mundo, colocou todo o poder econômico de seu império em ação para destronar Donald Trump da Casa Branca.
Entrou tarde na campanha para ser o ungido dos democratas para disputar com o presidente a eleição de 3 de novembro — só será testado na Superterça, quando são realizadas prévias em 16 Estados e territórios —, mas já aparece como terceiro colocado nas pesquisas — atrás do senador Bernie Sanders e de Joe Biden, ex-vice de Barack Obama, que perdeu tração. Saiba por que Bloomberg tem tudo para ser o anti-Trump. E o que ameaça sua indicação.
Por que deve ganhar
1 - É multimilionário
Suas posições como megaempresário, em defesa do liberalismo, seduzem o eleitor democrata mais conservador, que teme o radicalismo do senador Bernie Sander, à esquerda no espectro político. O pré-candidato rivaliza com Trump, também milionário, e, muitas vezes, ridiculariza a fortuna do presidente. Perguntado se seria saudável uma disputa presidencial entre dois milionários, Bloomberg ironizou:
— Quem é o outro?
Enquanto Bloomberg construiu seu império midiático, tendo iniciado sua carreira em Wall Street, Trump tem sua fortuna questionada _ boa parte foi herdada. Esse aspecto ativa a insegurança do presidente, que talvez não tenha tanto dinheiro quanto propagandeia, em meio a hipotecas, empréstimos e ativos em desvalorização. Bloomberg tem fortuna estimada em US$ 55 bilhões.
2 - Máquina de propaganda
O dinheiro de Bloomberg faz girar uma formidável máquina de propaganda _ essencial em campanhas políticas nos Estados Unidos, onde não há horário eleitoral obrigatório. Sua equipe conta com milhares de pessoas, com mais de 125 escritórios em todo o país e uma série de eventos elegantes. Ele remanejou funcionários de vários ramos de seu império e está recrutando militantes com salários muito acima dos padrões nacionais de campanhas eleitorais. Bloomberg não descarta gastar até R$ 4 bilhões na disputa eleitoral contra Trump, mesmo que ele não seja escolhido o candidato democrata.
3 - Atrai a ira de Trump
Os tuítes raivosos de Trump contra o provável rival só fortalecem Bloomberg. O presidente dirige-se ao pré-candidato como "Mini Mike", devido a sua baixa estatura:
"Mini Mike Bloomberg é um perdedor com dinheiro, mas não sabe debater, não tem nenhuma presença, vocês verão _ tuitou na quinta-feira.
A energia que Trump gasta contra ele nas redes sociais é um bom termômetro de que o presidente está preocupado com a ascensão do possível adversário.
4 - A onda Bloomberg
Os principais favoritos até agora no Partido Democrata, Joe Biden e Elizabeth Warren, foram mal nas primárias de Iowa e New Hampshire. Isso deu margem para a ascensão de um nome até então pouco conhecido dos eleitores, Pete Buttigieg, que não deve se consolidar nas próximas disputas. As pesquisas revelam declínio no apoio a Biden, que até recentemente era favoritíssimo. O quarto lugar do ex-vice-presidente em Iowa derrubou o que foi sua maior força: a percepção de que ele era o melhor candidato para derrotar Trump.
Por que pode perder
1 - Rejeição do eleitor negro
Bloomberg não conta com o apoio do eleitor negro, grupo fundamental do Partido Democrata — Hillary Clinton também não o tinha e perdeu. O empresário sabe disso e lançou uma operação de sedução desse eleitorado no Texas — Estado que tem peso importante, com 228 delegados dos 1.991 necessários para garantir a candidatura na convenção da legenda, em julho.
_ Este mês, olhamos para trás e comemoramos juntos a história negra, porque a história negra é a história dos Estados Unidos _ afirmou, ao lançar sua campanha "Mike por um Estados Unidos Negro".
2 - Políticas controversas
Um dos motivos da rejeição dos negros — e de outros setores progressistas — é o passado político de Bloomberg. Quando prefeito de Nova York (2002-2019), ele implantou uma política de tolerância zero contra a criminalidade, que contava com controle policial excessivo e ostensivo na cidade. Uma das medidas era um programa conhecido como "pare, pergunte e registre", que permitia aos policiais pararem pessoas temporariamente, interrogá-las e, às vezes, revistá-las nas ruas em busca de armas e contrabando. Essa política se concentrou mais em negros e latinos e foi classificada por muitas entidades de racista. Bloomberg tem se desculpado sempre que o tema aparece.
— Olhando para trás, defendi essa política por muito tempo, porque não entendia a dor involuntária que estava causando — afirmou Bloomberg, que já havia se desculpado ao lançar sua campanha presidencial.
3 - Campanha tardia
Bloomberg não se submeteu a nenhuma primárias até agora. Perdeu tempo, enquanto seus rivais já estavam com as campanhas nas ruas desde o ano passado. No entanto, há um aspecto positivo: enquanto os adversários se digladiavam-se publicamente, Bloomberg não apareceu nos debates.
4 - Ambivalência política
Bloomberg é conhecido por virar a casaca. Ele entrou para a política em 2001, ano trágico para Nova York, cidade que governaria a partir do ano seguinte. Era membro vitalício do Partido Democrata, mas decidiu concorrer à prefeitura da metrópole pelo lado republicano — depois ele se afastou da sigla, se tornou independente e, agora, volta a ser democrata. A mudança não é bem vista pelos caciques da sigla, que não o acham confiável — nesse sentido, Trump também não o era na época da pré-campanha republicana, em 2016.