A tragédia com o avião da Ukraine International Airlines, na qual morreram todas as 176 pessoas a bordo na quarta-feira (8), ingressa na guerra de narrativas entre Irã e Estados Unidos e realimenta a crise, que havia arrefecido após a declaração do presidente Donald Trump sobre os ataques contra bases americanas no Iraque.
A hipótese de que o avião civil teria sido abatido por um míssil iraniano de origem russa, aventada por especialistas ouvidos pela revista Newsweek, é corroborada pela coincidência. A queda da aeronave após decolagem do aeroporto de Teerã ocorreu apenas cinco horas depois da operação iraniana que atingiu com bombas as bases dos EUA, Al-Asad e Erbil, no Iraque.
Imagens que circulam em redes sociais mostram supostamente o avião pegando fogo antes de cair. Mas essas cenas corroboram para qualquer uma das hipóteses: ação militar por engano ou não, terrorismo, explosão de motores.
Nenhuma comunicação por rádio foi realizada pelo piloto. A aeronave desapareceu dos radares quando estava a cerca de 2,5 mil metros de altitude. Pode não ter dado tempo de comunicar problemas.
As duas caixas-pretas foram encontradas. No entanto, a agência de aviação do Irã disse que não irá entregá-las aos EUA nem à Boeing, fabricante do avião.
De acordo com os padrões descritos no Anexo 13 da Organização de Aviação Civil Internacional, o país onde ocorre um acidente lidera a investigação e é responsável por liberar informações relacionadas ao incidente. Funcionários de outros países podem ser incluídos para oferecer suporte técnico e de investigação. A Ucrânia, nação que sedia a companhia aérea acidentada, entrou na investigação.
Veja quatro hipóteses possíveis para o incidente.
1 - Míssil antiaéreo
É a hipótese levantada por funcionários dos setores de inteligência dos Estados Unidos, que conversaram em off com a revista Newsweek: um membro do Pentágono, outro da área de inteligência dos EUA e um terceiro do mesmo setor, só que do Iraque. Para eles, a aeronave teria sido abatida pelo sistema de defesa aérea do Irã (de origem russa) de modo acidental. Outro funcionário, ouvido pela agência Reuters, disse que satélites dos EUA detectaram o lançamento de dois mísseis pouco antes de o avião cair.
Uma das formas de investigar essa hipótese é buscar fragmentos desse tipo de artefato militar no local onde caíram os destroços do avião. Uma equipe com especialistas que participaram das investigações sobre o ataque com um míssil russo que derrubou o voo MH17, da Malaysia Airlines, em 2014, no espaço aéreo da Ucrânia, está encarregada do trabalho no Irã.
Nesta quinta-feira (9), o presidente Donald Trump afirmou:
– Tenho minhas suspeitas. Estava voando em um bairro bastante difícil e alguém pode ter um cometido um erro.
A Rússia assinou um contrato em 2005 para vender o sistema de mísseis Tor ao Irã. Conhecida como Otan Gauntlet, o equipamento tem alcance de 11 quilômetros e foi projetado para proteger o espaço aéreo em uma pequena área.
As autoridades iranianas disseram que os rumores "não fazem sentido". "Vários voos nacionais e internacionais estavam no espaço iraniano ao mesmo tempo à mesma altura de 8 mil pés, e essa história do ataque com mísseis no avião não pode estar correta", diz o site do ministério da Transporte do Irã.
2 - Explosão interna, causada por terrorismo
É outra hipótese. Um terrorista a bordo da aeronave poderia ter driblado o sistema de segurança do aeroporto de Teerã e embarcado. Os cuidados das autoridades aeroportuárias em países do Oriente Médio são redobrados em razão da atuação frequente de grupos extremistas. Para ingressar na área do aeroporto de Bagdá, por exemplo, é necessário passar por pelo menos quatro barreiras – com revista pessoal e raio x. Não é impossível. Mas é difícil. Em Teerã, os cuidados são similares.
A quem interessaria um atentado contra um avião ucraniano partindo de Teerã? O Irã é apoiado pela Rússia que, por sua vez, ocupa a região da Crimeia. O governo ucraniano é pivô da crise que levou ao processo de impeachment contra o presidente Donald Trump: vale lembrar que a principal evidência de abuso de poder levantada pelos democratas no processo é um telefonema no qual o chefe de Estado americano pressiona o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenski, a investigar os negócios da família Biden no país (em especial do filho de Joe Biden, principal rival de Trump na eleição de novembro).
3 - Falha técnica nos motores
É a principal suspeita neste momento, de acordo com as autoridades iranianas. Conforme fonte próxima dos serviços de segurança do Canadá (que auxilia na investigação porque boa parte dos passageiros, 63, tinha relação com o país), o motor do avião pode ter superaquecido. De acordo com um relatório preliminar da Ucrânia, a aeronave teve um problema técnico logo após a decolagem e tentou retornar ao aeroporto antes da queda. No entanto, a falha em questão não foi revelada.
O vídeo de uma câmera de televisão de circuito fechado postada no Twitter pela emissora estatal do Irã mostrou a escuridão antes do amanhecer de repente iluminada por um brilho laranja ardente e, em seguida, detritos em chamas espalhando-se por uma ampla área.
"A trajetória da colisão indicou que o avião estava inicialmente se movendo em direção ao oeste, mas depois de ter algum um problema, virou à direita e estava se aproximando do aeroporto novamente no momento do acidente", disse Ali Abedzadeh, chefe da Aviação Civil Organização, disse no relatório.
4 - Colisão com um drone
Drones são considerados hoje uma das principais ameaças ao tráfego aéreo, em especial em regiões onde a regulamentação desses aparelhos não é rigorosa. Desde o final de 2018, a presença de drones próximo a aeroportos tem chamado a atenção das autoridades e provocado uma série de transtornos para a população, como a interrupção das atividades, atrasos e cancelamentos de voos. Por definição da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), os drones não podem chegar a menos de 5,4 km de um aeroporto, se estiverem voando a uma altura de até 30 metros. Para voos mais altos, os drones precisam manter uma distância de pelo menos nove quilômetros. No caso dos países do Oriente Médio, essa regulação não é tão rigorosa.