Já era esperado que Donald Trump elogiasse a indicação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro, para o cargo de embaixador em Washington. Ele mesmo costuma fazer da Casa Branca seu clã particular. É habitual Trump manejar a política confundindo o núcleo familiar com o exercício do poder – aliás, como Bolsonaro, admirador do presidente americano, também costuma fazer.
Respondendo à pergunta da repórter Raquel Krähenbühl, da Globonews, na tarde desta terça-feira, durante entrevista coletiva, Trump deu a entender desconhecer a indicação de Bolsonaro, mas elogiou:
– Eu acho o filho dele excelente. Ele é um jovem brilhante, maravilhoso. Estou muito feliz com a indicação, acho que é uma ótima indicação.
O círculo familiar de Trump frequenta com desenvoltura os corredores da Casa Branca e ocupa lugar de destaque no Salão Oval e em fóruns internacionais, muitas vezes provocando mal-estar entre diplomatas de carreira e secretários de Estado, estes últimos equivalentes ao ministros no Brasil.
A principal protagonista da família é a filha mais velha de Trump, Ivanka, que, em viagens internacionais, aparece com frequência ao lado do pai. Recentemente, virou piada um vídeo em que ela tenta participar de uma roda de conversa com a então primeira-ministra britânica Theresa May, o presidente francês Emmanuel Macron e a diretora do FMI, Christine Lagarde. Os líderes parecem indiferentes a sua presença, enquanto ela tenta participar do diálogo.
Antes, na mesma cúpula do G-20, Ivanka estava entre Trump, o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, e o príncipe saudita Mohammed Bin Salman. Um dia depois, aparecia na reunião bilateral com o governo da Coreia do Sul.
Oficialmente, Ivanka exerce o cargo de assessora do presidente - mas, muitas vezes, seu protagonismo é maior do que a cadeira que ocupa. Faz as vezes de conselheira, chefe de Gabinete e até secretária de Estado. Este ano, Trump chegou a admitir que havia pensado em Ivanka como nova embaixadora americana na Organização das Nações Unidas (ONU) para substituir Nikki Haley, ou como nova presidente do Federal Reserve, o banco central americano.
- Ela é ótima em números - afirmou.
Depois, à revista The Atlantic, ele explicou o recuo:
- Se eu a tivesse nomeado, diriam que era nepotismo.
Agora, em relação à indicação de Bolsonaro, Trump não vê nepotismo. Na mesma entrevista coletiva desta terça-feira, questionado pela jornalista da Globonews sobre o assunto, ele declarou:
– Não, eu não acho que é nepotismo porque o filho dele o ajudou muito na campanha. O filho dele é excelente. Eu acho que é uma ótimo indicação. Eu eu não sabia disso.
Ivanka atua diante das câmeras. Seu marido, Jared Kushner, prefere os bastidores. É um dos homens mais influentes no Salão Oval, provocando inveja em altos funcionários trumpistas.
Kushner foi uma das principais peças da equipe de transição, mantendo importantes contatos com líderes estrangeiros, entre o hoje premier britânico, Boris Johnson. Antes, durante a campanha, estava em uma até agora não explicada reunião com funcionários russos na Trump Tower. Até agora, esse episódio é uma das principais evidências da possível interferência do Kremlin nas eleições de 2016.
Judeu, o genro é assessor sênior de Trump e responsável pelas relações com o Oriente Médio. Nessa condição, participou ativamente de uma polêmica venda de US$ 8,1 bilhões em armas para a Arábia Saudita. A comercialização do arsenal, que provavelmente será usado na Guerra do Iêmen, um conflito com denúncias de violações de direitos humanos, foi aprovada pelo Senado americano.