Nas Filipinas do regime de Rodrigo Duterte é comum forças policiais invadirem redações para prender jornalistas. Que o diga a CEO da Happler, Maria Ressa, detida recentemente na sede do site de notícias, em um dos mais recentes episódios de sufocamento da imprensa independente no país.
Nesta quarta-feira (5), entretanto, o que escandalizou o mundo jornalístico e gerou declarações de repúdio de organizações de defesa da liberdade de imprensa foi uma ação policial dentro de uma redação em um país reconhecido pelo desenvolvimento de sua democracia, a Austrália.
A polícia federal australiana fez uma batida na sede da emissora de TV estatal ABC, a segunda operação do tipo em 24 horas. Os agentes buscavam, com autorização da Justiça, informações sobre o trabalho recente de três jornalistas que participaram de uma investigação jornalística em 2017.
Os repórteres tiveram acesso a documentos que revelavam que forças especiais australianas mataram homens e meninos inocentes no Afeganistão. A polícia federal informa que a reportagem viola a Lei sobre Crimes, de 1914.
O editor executivo da ABC, John Lyons, afirmou que os agentes exigiram acesso às anotações dos repórteres, a e-mails, a rascunhos dos textos, a fotos,a gravações e senhas de acesso aos computadores de três jornalistas.
– É incomum uma emissora nacional ser vasculhada desta forma – declarou o diretor da ABC, David Anderson.
O sindicato Aliança Australiana de Imprensa, Entretenimento e Arte disse que a invasão da residência da jornalista em Canberra foi um "odioso ataque à liberdade de imprensa que busca punir jornalistas por publicar histórias legítimas, que claramente são do interesse público". Em nota de repúdio, o Fórum Mundial de Editores se disse consternado e preocupado com os ataques.