Sabe aqueles pesadelos em que você acorda no susto no meio da noite, levanta da cama, vai até a cozinha beber água, volta, adormece de novo e o sonho ruim continua, como se fosse a segunda temporada de uma série de terror? Assim têm sido as noites na Casa Rosada de Mauricio Macri.
O blecaute histórico que atingiu por mais de 11 horas a Argentina neste domingo (16) — com resquícios ainda nesta segunda-feira (17) — é ato contínuo do pesadelo sem fim do presidente que planeja a reeleição em 27 de outubro. O apagão, que atingiu também o Uruguai, ocorre em meio à crise econômica que jogou 3 milhões de argentinos na pobreza, elevou as taxas de juros, desvalorizou o peso e trouxe de volta um drama que nossos vizinhos conhecem bem — o risco da quebra total do país, como ocorreu no final dos anos 1990. A popularidade de macri despenca: ele é considerado ruim ou péssimo por 54% dos argentinos.
A esquerda apressou-se em comparar a Argentina macrista e de centro-direita à Venezuela madurista e bolivariana, onde apagões são frequentes. Exageros à parte, o fato é que a falta de energia elétrica generalizada é tudo o que Macri não contava a pouco mais de quatro meses do pleito. Os jornais aventam a hipótese de que o governo tenha ignorado o alerta de que o blecaute era provável.
— Milhões de argentinos, que têm de pagar taxas astronômicas de eletricidade, ainda estão esperando que a energia volte a suas casas — alfinetou Alberto Fernández, que concorre à presidência tendo como vice a ex-presidente Cristina Kirchner.
O secretário de Energia, Gustavo Lopetegui, garantiu nesta segunda-feira (17) que "há zero" possibilidade de um blecaute se repetir
O domingo (Dia dos Pais na argentina) é de baixa demanda por energia elétrica, fato que intriga as autoridades. Uma investigação interna está sendo realizada. Era dia de eleições para governador em quatro províncias.
A disputa de outubro deve ser marcada por três principais chapas: Macri, Cristina (e o cabeça de chapa Fernández) e a terceira via, representada pelo peronista moderado Roberto Lavagna, ex-ministro da Economia da gestão de Néstor Kirchner.
Ele concorre ao lado lado de Juan Manuel Urtubey, peronista de centro-esquerda, e atual governador de Salta.
As chances de Lavagna residem na desilusão em relação a Macri, que não cumpri o que prometeu, e na aversão a Cristina, no banco dos réus por corrupção. Mesmo assim, o ex-ministro não chega a ser a novidade que muitos argentinos desejariam na Casa Rosada. Tudo indica que a expressão mais ouvida nas últimas décadas em pleitos eleitorais entre nossos vizinhos — "más de lo mismo" — ecoará de novo em Buenos Aires nos próximos meses.