Nicolás Maduro não está errado ao afirmar que a ajuda humanitária serve como pretexto para disfarçar uma intervenção militar na Venezuela. Por certo, uma invasão não virá — ao menos, por enquanto — de forma tradicional, com infantaria e cavalaria mecanizada americanas, colombianas ou brasileiras.
A estratégia dos Estados Unidos, com apoio dos países do Grupo de Lima, é a seguinte: acumular comida e remédios na fronteira para colocar à prova a fidelidade dos militares a Maduro. Até quando os soldados — muitos deles passando fome como qualquer outro cidadão venezuelano —, vendo a ajuda no horizonte, lá do outro lado da ponte internacional Tienditas, resistirão a deixar entrar o carregamento?
Os primeiros caminhões chegaram à fronteira colombiana na noite de quinta-feira. Os veículos repletos de produtos de primeira necessidade entraram no centro de armazenamento disponibilizado pelas autoridades colombianas perto da ponte, na cidade fronteiriça de Cúcuta. Na Colômbia, a ajuda foi recebida pela estatal Unidade Nacional para a Gestão de Risco de Desastres (UNGRD). Em um comunicado, o órgão anunciou que sua missão é proteger e resguardar o material, "cumprindo o compromisso do governo colombiano nesta operação humanitária". Mais carregamentos estão previstos para os próximos dias, procedentes do Brasil, da União Europeia e do Canadá.
O problema agora é mais do que logístico. Não é apenas uma questão de quem irá transportá-los para dentro da Venezuela. É como fazer isso, já que a fronteira está fechada. Maduro rejeita a ajuda dizendo que o país não está pedindo esmola. Militares bloquearam a ponte com caminhões. Juan Guaidó, por seu lado, clama por mais apoio internacional — e, quando fala que comida e remédios estão chegando, é ovacionado pelos seguidores.
A atitude dos militares a partir de agora permitirá medir a unidade de comando das forças armadas, base tradicional de Maduro. A aposta americana é de que as tropas venezuelanas estão morrendo de fome e serão sensíveis a seus conterrâneos.
Pontes são simbólicas, um convite para deserções, como já mostraram imagens históricas durante a Guerra Fria. Qual será o primeiro soldado a atravessá-la para o lado colombiano? Ou quem abrirá a porteira para a entrada dos alimentos e remédios? Neste fim de semana e pelos próximos dias, o centro nervoso da crise venezuelana deixa Caracas e se transfere para a fronteira entre as pequenas Cúcuta (Colômbia) e Ureña (Venezuela).