Clique no mapa abaixo para saber mais sobre cada um dos países, informações sobre seus líderes, dados de exportação e importação brasileiras, presença diplomática e índices de liberdade política e civil
O governo de Jair Bolsonaro decidiu desconvidar para a posse líderes de três países que considera ditaduras — Cuba, Venezuela e Nicarágua. Mas, se clicarmos no mapa cima, veremos que, se o critério for regimes autoritários, o presidente eleito e o Itamaraty deveriam enviar pelo menos outras 47 cartas, vetando que seus chefes de Estado ou governo apareçam em Brasília nesta terça-feira.
Conforme a Freedom House, organização independente com sede em Washington que monitora a democracia mundo afora, existem hoje 49 nações consideradas “não livres”. O relatório de 2018 aponta os regimes de Nicolás Maduro e Miguel Díaz-Canel, sucessor de Raúl Castro, como ditaduras. A Nicarágua de Daniel Ortega aparecia no documento como “meio livre”, situação que deve mudar no próximo relatório dadas as medidas autoritárias empreendidas pelo governo nos últimos meses, com fechamento de veículos de comunicação e perseguição a opositores.
Para estabelecer o ranking, reconhecido mundialmente por governos e estudiosos, a organização contabiliza níveis de liberdades políticas, direitos civis, condições de trabalho da imprensa, presença de eleições e participação da oposição, entre outros. Nações com mais democracia obtêm nota entre 70 e 100. O Brasil, em 2018, ficou com 78. Países com menos democracia têm notas entre zero e 35 (com exceção da Síria, em guerra civil, que a organização deu -1. Aqueles onde a democracia é frágil (parcialmente livres) recebem entre 36 e 69.
O Brasil mantém relações diplomáticas e comerciais com todos os 49 governos considerados autoritários pela Freedom House. A começar pelo principal parceiro econômico, a China, para o qual o país exportou, entre janeiro e novembro, US$ 58,7 bilhões. Sobre o gigante asiático, a organização afirmou: “O regime de partido único, o Partido Comunista Chinês (PCC), reforçou o controle sobre a mídia, a internet, os grupos religiosos e as associações da sociedade civil. O líder do PCC e presidente Xi Jinping consolidou o poder pessoal em grau não é visto na China há décadas”, diz o documento.
A maioria das ditaduras com as quais o Brasil mantém relações diplomáticas ficam na África subsaariana (19) e no Oriente Médio e norte da África (12). Nem todas têm embaixada brasileira — em alguns casos, como o Djibuti para o qual vendeu US$ 21,3 milhões em 2018, a representação diplomática de Adis Abeba, Etiópia, exerce jurisdição cumulativa.
A decisão de desconvidar de última hora os chefes de Estado é inédita no Brasil pós-redemocratização. O recuo é considerado extremamente deselegante do ponto de vista diplomático e vai contra a tradição brasileira de enviar convites a todas as nações com que o Brasil mantém relações, até mesmo aquelas com governos autoritários. Até domingo, 12 chefes de Estado e de governo haviam confirmado presença: os premiers Benjamin Netanyahu (Israel), Viktor Orbán (Hungria) e Saadeddine Othmani (Marrocos) e os presidentes Marcelo Rebelo de Souza (Portugal), Sebastían Piñera (Chile), Iván Duque (Colômbia), Mario Abdo (Paraguai), Martín Vizacarra (Peru), Tabaré Vázquez (Uruguai), Evo Morales (Bolívia), Juan Orlando Hernández (Honduras) e Jorge Carlos Fonseca, de Cabo Verde.