O G20 nasceu como fórum econômico. Mas, sem clima amigável para se falar de finanças diante do recrudescimento dos muros que entravam o livre-comércio, foi o componente simbólico que acabou dando contornos históricos ao primeiro dia da reunião em Buenos Aires. Pela primeira vez desde a Guerra das Malvinas, em 1982, argentinos e britânicos se reuniram na capital do país sul-americano.
Foram apenas 15 minutos entre Theresa May e Mauricio Macri em que a soberania do arquipélago, tema ainda hoje atravessado na garganta dos argentinos, foi o assunto mais presente e menos pronunciado.
Divergências foram colocadas de lado: o único ponto relacionado ao assunto amargo foi o agradecimento de May pelos esforços para confirmação do segundo voo entre o continente americano e as ilhas – da Latam, de São Paulo com escala em Córdoba. Por seu lado, Macri agradeceu o apoio britânico nas negociações para o socorro do Fundo Monetário Internacional (FMI).
São dois líderes unidos na crise. Macri vive seu inferno astral: inflação, desemprego, protestos nas ruas, a tragédia do submarino ARA San Juan e, para piorar, no dia da abertura do G20, até um terremoto leve sacudiu Buenos Aires e arredores. May não está muito melhor: a decisão de optar pelo divórcio amigável com a União Europeia (UE) detonou uma crise doméstica em terras de Sua Majestade. Quem desejava a separação litigiosa, ou saiu do governo ou o está minando, por dentro, brigando por um voto de desconfiança para a premier.
No quesito resto do mundo, o dia 1 do G20 foi marcado pelo isolamento de Donald Trump, enquanto o russo Vladimir Putin provocou polêmica ao cumprimentar de forma efusiva o príncipe saudita, Mohammed bin Salman, persona non grata por muitos depois da morte do jornalista Jamal Khashoggi na embaixada em Istambul.
Em reuniões como essa, sinais falam mais do que palavras: coube a Emmanuel Macron advertir o malvado favorito de Trump e Putin no Oriente Médio. O presidente francês disse estar preocupado com o caso. O príncipe ficou o tempo inteiro sorrindo, enquanto Macron se manteve sério.
O recado foi dado.