A partir desta sexta-feira, os olhos do planeta repousarão sobre Buenos Aires, no mais importante encontro de líderes mundiais do ano na América Latina.
Será a primeira vez que a região receberá a cúpula do G20, clube formado pelas 20 nações que, juntas, representam 85% da produção mundial.
É difícil nos dias de hoje falar em multilateralismo, mas este é o cerne do grupo, criado a partir de uma derivação do G7, a organização dos mais ricos. Trata-se de uma reunião econômica. Mas aspectos políticos e até curiosidades sobre as comitivas extravasam esse campo. Veja sete pontos para prestar atenção durante a cúpula, que irá até sábado.
1) Trump e Putin, as estrelas
As estrelas do encontro são Donald Trump e Vladimir Putin. É para eles que o mundo olha com especial atenção a cada reunião anual do G20.
A esperada reunião bilateral está ameaçada em razão de um incidente armado entre a Ucrânia e a Rússia, no Mar Negro. Nesta quarta-feira, o Kremlin disse que as duas nações "precisam igualmente" do frente a frente.
2) Guerra (s) comercial (ais)
As tensões internacionais sobre o comércio certamente vão dominar a reunião como um todo. Estados Unidos e China, as duas maiores economias do mundo, não dão sinais de ceder em sua guerra comercial.
Trump estabeleceu, com seu par chinês, Xi Jinping, o G20 como data-limite para Pequim reduzir as barreiras comerciais ou ampliar a pressão. Duas grandes cúpulas este ano, a do G7, e o Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), acabaram sem os tradicionais comunicados conjuntos.
3) Crise do anfitrião
Este será o evento internacional mais importante organizado na Argentina nos últimos anos, mas, diferentemente do que esperava o presidente Mauricio Macri, é um país em pela crise econômica.
Ele teve em 2018 o ano mais difícil de seu governo, com a explosão da crise econômica que o obrigou a pedir ajuda ao Fundo Monetário Internacional (FMI) no valor de US$ 56 bilhões, a mais alta da história do organismo. A desvalorização de 50% do peso argentino em relação ao dólar, a inflação prevista entre 45% e 50% para 2018, o aumento da pobreza (27,3%) e do desemprego (9,6%) não estão entre os indicadores que o anfitrião desejava mostrar aos colegas.
4) Reconciliação simbólica
O G20 será histórico pois marcará uma simbólica reconciliação entre Argentina e Reino Unido, que se enfrentaram em uma guerra em 1982 pelas Malvinas (chamadas de Falklands pelos britânicos).
Theresa May será a primeira chefe de governo britânica a visitar Buenos Aires desde a guerra. Tony Blair passou brevemente pela Argentina em 2001, quando cruzou a fronteira brasileira nas Cataratas do Iguaçu.
5) Príncipe moderninho e suspeito
Atenção também ao príncipe herdeiro saudita, Mohamed bin Salman, que chegou nesta quarta-feira a Buenos Aires. É possível que Salman se reúna em Buenos Aires com o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, no que seria o primeiro encontro entre os dois desde o assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi no consulado da Arábia Saudita em Istambul em 2 de outubro.
A justiça argentina deve avaliar se abre uma investigação contra Salman por uma denúncia apresentada pelo grupo de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch pelo assassinato de Khashoggi e por crimes de guerra no Iêmen.
6) Risco de atentado
O fantasma do terror sempre ronda a Argentina. O país foi alvo de dois ataques nos anos 1990 – contra a embaixada de Israel e a sede da Amia. Para garantir a segurança, cerca de 24 mil agentes de segurança trabalham, há áreas fechadas até para tráfego de pedestres e interrupção total do sistema de metrô e trens. Para limitar os deslocamentos dos habitantes, na sexta-feira, foi decretado feriado na capital argentina.
7) Temer, "o pato manco"
O brasileiro Michel Temer tentou levar o presidente eleito Jair Bolsonaro a Buenos Aires. Não conseguiu. Seria o fato novo brasileiro. Na última participação no G20, em Hamburgo, Temer, sob o risco de perder o cargo, teve participação discreta. Não se reuniu com nenhum líder mundial e voltou antes do encerramento.
Para Brasil, prioridades no G20 são comércio, clima e trabalho. Mas a participação brasileira é pouco relevante no cenário global. O presidente que está saindo é visto no cenário internacional como o "pato manco" (como os americanos chamam seu chefe de Estado em final de mandato).