A Argentina, que sediará, entre sexta-feira (30) e sábado (1º), o encontro das 20 maiores economias do planeta, é um microcosmo da turbulência do mundo nesses dias atuais. A cúpula de Buenos Aires tinha tudo para ser a vitrine das medidas neoliberais adotadas pelo presidente Mauricio Macri, mas tornou-se o réquiem dos últimos dois anos horríveis de sua gestão, com crise econômica, desvalorização do peso e inflação galopante. Junte-se ao drama, a tragédia com o submarino ARA San Juan e, no último final de semana, o vergonhoso episódio que levou ao adiamento da final da Libertadores da America.
Política e futebol são temas preferidos dos hermanos nos cafés portenhos. O primeiro há muito já não era motivo de orgulho. O segundo, que tinha tudo para inflar o ego da nação, diante de uma final em casa, descarrilou.
O ambiente tenso das ruas de nossos vizinhos deve contaminar a cúpula – principalmente do lado de fora, em razão do aumento da segurança para receber os chefes de Estado e de governo e por conta dos protestos para constranger Macri e sua política econômica.
Do lado de dentro, o reflexo de um mundo mais restrito às relações comerciais (com conflitos entre EUA e China e tarifas punitivas à mancheia) estará presente no relatório a ser apresentado pela xerife do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde. Turbulências globais respingarão sobre reuniões polêmicas. Os presidentes Donald Trump, dos Estados Unidos, e Xi Jinping, da China, tentarão uma saída para a tensão comercial entre as duas maiores economias do mundo. O americano também deve se reunir com o príncipe saudita Mohammed Bin Salman em meio às suspeitas de que o herdeiro seja o mandante do assassinato do jornalista Jamal Khashoggi no consulado em Istambul.
Fotógrafos e repórteres também sempre esperam pelo encontro entre Trump e o presidente russo, Vladimir Putin. Neste último caso, o tema seria o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF, na sigla em inglês), que Trump quer revogar, mas ontem as relações passaram a ser sacudidas por outro assunto urgente: a Ucrânia, que declarou lei marcial depois que a Rússia alvejou e capturou três de suas embarcações.
No bojo das turbulências mundiais, a União Europeia chega a Buenos Aires enlutada pelo acordo que fixa os termos do divórcio com o Reino Unido – a primeira baixa na história do condomínio Europa. A primeira reunião do G20 na América Latina traz ainda duas chagas regionais: o caos econômico, político e institucional na Venezuela e a massa humana de migrantes que bateu de cara no muro americano em Tijuana, no México.
No caso brasileiro, o presidente eleito Jair Bolsonaro foi convidado por Michel Temer para ir a Buenos Aires, mas cancelou a viagem. Assuntos relevantes por aqui e além das fronteiras não faltarão. Aliás, são temas e problemas demais para dias de menos.