O governo argentino diz que não tem condições de retirar do fundo do mar o submarino ARA San Juan, sarcófago de aço de 2 mil toneladas onde estão os corpos dos 44 marinheiros. Mas a história do século 20 mostra que operações de resgate desse tipo, embora caras, complexas e sob risco altíssimo, são possíveis.
Isso depende, é claro, de vários fatores, como as condições em que a embarcação se encontra no solo marítimo, ventos e ondas na superfície, capacidade técnica e tecnologia para suportar à enorme pressão. Se tudo der certo, ainda há o risco de a estrutura do submarino não suportar o içamento e se romper, como aliás, já ocorreu nos anos 1970, na região do Havaí (leia mais abaixo).
Veja três episódios em que a tecnologia, a união de forças, o dinheiro e a boa vontade resultaram em sucesso — ainda que em parte.
O resgate do Kursk
Afundado em agosto de 2000 devido a uma explosão a bordo, o submarino nuclear Kursk foi içado por especialistas holandeses um ano depois, em uma megaoperação que custou US$ 65,2 milhões. A embarcação era maior e mais pesada do que o ARA San Juan.
Mergulhadores desceram 110 metros de profundidade no Mar de Barents, no Ártico, em uma câmara de pressão. Eles prenderam 26 cabos do navio Giant 4 ao submarino. Aos poucos, a mbarcação foi içada a uma velocidade de 10 metros por hora. Cento e 18 marinheiros morreram na tragédia.
Projeto Azorian
Nos anos 1970, os EUA lançaram um plano secreto para resgatar o submarino russo Golf-II a 4 mil metros de profundidade, na região do Havaí. A embarcação transportava três mísseis balísticos armados com ogivas nucleares. Era uma oportunidade para a inteligência americana examinar o aparelho, caso conseguisse resgatá-lo.
Os EUA construíram um navio, Hughes Glomar Explorer, a um custo de US$ 350 milhões, com uma gigantesca garra em sua "barriga" que abria e pescava o submarino.
Foi possível retirar uma parte que pesava 2 mil toneladas, mas houve problemas com a garra. Um pedaço do submarino se rompeu, e dois terços do casco voltaram ao fundo do oceano. Os mísseis estavam na parte que afundou, porém ainda foram recuperados os torpedos com ogivas nucleares, além de seis corpos de marinheiros soviéticos (no total, eram 98 tripulantes).
Salvamento na Irlanda
Em 29 de agosto de 1973, dois britânicos, Roger Chapman e Roger Mallinson, ficaram presos dentro de um dispositivo de exploração oceânica, uma espécie de minussubmarino chamado Pisces III, a 480 metros de profundidade na costa da Irlanda. Eles ajustavam cabos telefônicos transatlânicos quando houve um acidente.
Assista ao vídeo da operação
Uma operação internacional foi montada. Submergíveis semelhantes ao Pisces foram levados para a área. Em 1º de setembro, um dos aparelhos conseguiu prender um cabo de reboque à estrutura da embarcação avariada – muito menor do que qualquer submarino de grande porte. Outro equipamento, o Controlled Underwater Recovery Vehicle (CURV-III), da marinha americana, conseguiu fixar outro cabo ao submersível. O Piscis III emergiu após operação de mais de 70 horas. A dupla ficou três dias no fundo do mar. Quando foi resgatada, tinha apenas 12 minutos de oxigênio.