Comandante do Tikuna, um dos cinco submarinos brasileiros, o capitão-de-fragata Luis Cerutti explicou a ZH as condições que podem, segundo ele, ainda garantir oxigênio no interior do submarino argentino ARA San Juan, desaparecido há oito dias no Atlântico Sul. Quarenta e quatro tripulantes estão a bordo. Não se sabe, até o momento, se a embarcação está à deriva ou se submergiu.
Pela sua experiência e conhecimento, o senhor acredita que ainda há oxigênio no interior do submarino argentino?
É muito difícil precisar quanto de ar há no submarino porque não sabemos a última vez em que ele fez sua renovação do ar atmosférico a bordo. O fato de as buscas se encaminharem para o sétimo dia, não significa que ele já está há sete dias sem ar atmosférico. É muito difícil precisar quanto efetivamente ficou sem renovação de oxigênio para que contássemos um tempo que ele pudesse ficar sem ar. Existem outros dispositivos a bordo que você pode renovar e manter um ar saudável dentro do submarino, prolongando esse tempo sem (a entrada de) oxigênio externo. Você tem ampolas de oxigênio que pode liberar na atmosfera de bordo, tem absorvedores de gás carbônico para manter o nível de CO2 baixo, para que não afete o ser humano. Fica muito difícil fazer qualquer previsão ou falar em tempo de oxigênio dos tripulantes a bordo.
Um submarino, diante de uma pane elétrica e mecânica, conseguiria vir a superfície naturalmente?
O submarino é um navio militar robusto, preparado para essas situações. Diante de uma pane generalizada, ele tem equipamentos de redundância para que, se um sofre um problema, há outro reserva para suprir. Diante de pane generalizada, você tem ar pressurizado em tanques externos, que chamamos tanques de lastro. Ele expulsa água, e você automaticamente deixa o submarino com flutuabilidade positiva. Ele viria a superfície. É muito difícil, com as informações que temos hoje, inferir sobre o problema a bordo do San Juan. Não sabemos nem se ele não está na superfície. As buscas continuam. A hipótese básica que temos é de que ele perdeu comunicações. Não se tem ainda qualquer confirmação de que o submarino não esteja na superfície.
O senhor está otimista, então, mesmo depois de oito dias?
Não é nem caso de otimismo. São evidências que chegam para a Marinha do Brasil via marinha argentina. O fato de ter perdido comunicação no dia 15 não significa que o submarino tenha, naquele dia, tido uma pane de maior gravidade. Com as informações que temos hoje, não é possível fazer qualquer tipo de previsão, mesmo sendo pessimista. A realidade é que não se tem notícia do submarino. Está se buscando em uma área grande. O estado do mar e os ventos dificultam muito. O mar está grosso naquela área.
Quais são as diferenças básicas entre o submarino argentino San Juan e os brasileiros?
O submarino San Juan é da classe TR 1800, projeto alemão. Os submarinos brasileiros também são projetos alemães, mas da classe KL 209. Mal comparando, é o mesmo fabricante de carro, mas de modelos diferentes. De maneira geral, todos os submarinos convencionais, que não são nucleares, ou seja, que precisam de motor, combustível e ar, eles têm mais ou menos o mesmo padrão de funcionamento, com mais ou menos os mesmos recursos de salvamento.
Qual a pressão máxima a que um submarino como o San Juan pode suportar submerso? Qual a profundidade máxima?
Esse dado da marinha argentina é confidencial. Não temos acesso à profundidade vai. Em geral, esses projetos de submarinos alemães alcançam profundidades superiores a 200 metros.