Ao que tudo indica, na semana que vem, Donald Trump e o príncipe saudita Mohammed bin Salman estarão juntos em Buenos Aires para o G-20. Será uma oportunidade para, quem sabe, celebrarem a amizade com um jantar regado a um bom assado em Puerto Madero - provavelmente sem vinho Malbec, se o herdeiro obedecer aos preceitos de sua religião.
O encontro entre os dois, na capital da Argentina, ocorre sob o fantasma do jornalista Jamal Khashoggi, morto no consulado saudita em Istambul, ao que tudo indica a mando de MBS, como o futuro rei modernizador da Casa de Saud é conhecido.
O lema informal do presidente americano parece ser aquele que diz "Aos amigos, tudo. Aos inimigos, a lei". Afinal, como nenhum outro líder dos Estados Unidos, Trump desautoriza sua própria comunidade de inteligência para passar a mão sobre a cabeça de MBS e conservar os laços econômicos com a petromonarquia.
Um dia depois de expressar dúvidas sobre a conclusão da investigação da CIA que responsabilizou MBS pela morte de Khashoggi, Trump agradeceu à Arábia Saudita pela queda de preços do petróleo, "um sócio firme" em suas próprias palavras: "Os preços do petróleo estão baixando. Genial! É como um grande corte fiscal para os Estados Unidos e para o mundo. Aproveitem! 54 dólares, estava em 82 dólares antes", tuitou.
Trump prioriza a política de boa vizinhança com os sauditas, apesar do escândalo do assassinato e do apoio a uma das ditaduras mais cruéis do Oriente Médio, cuja autorização para que mulheres possam dirigir é um verniz modernizante que esconde violações a direitos humanos e perseguições a opositores.
Os sauditas e seus petrodólares são grandes clientes de armas americanas e aliados da Casa Branca no Oriente Médio contra o Irã xiita. Que o diga o Iêmen, transformado em campo de tiro livre na guerra por procuração que os EUA travam contra o país dos aiatolás e a Rússia.
As relações familiares também falam alto. O príncipe herdeiro é próximo a Jared Kushner, genro e conselheiro de Trump. Do ponto de vista econômico, MBS ainda guarda os suvenires de sua recente viagem ao Vale do Silício, quando jantou com papas da tecnologia, como Tim Cook, da Apple, Jeff Bezos, da Amazon, e Sundar Pichai, da Google. Nos encontros, ainda estavam Bill Gates, Mark Zuckerberg e Rupert Murdoch.