A coluna observou nos últimos dias como os principais jornais, revistas e emissoras internacionais estão olhando para o pleito no Brasil. A seguir, uma síntese.
The Guardian (Reino Unido)
Em editorial intitulado: "A visão do Guardian sobre as eleições no Brasil: democracia em perigo", o diário britânico declara forte oposição ao candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro. Destaca ainda que "Bolsonaro não é Trump — é pior".
"O risco antes impensável de que o político de extrema direita Jair Bolsonaro pudesse se tornar o presidente do Brasil é agora real. O perigo que ele representa para a democracia é imenso", afirma o texto.
Em outro trecho, o editorial afirma: "Chamá-lo de Donald Trump na América Latina, como alguns o fizeram, é muito gentil. Bolsonaro é um misógino e homofóbico, cujas opiniões sobre as comunidades indígenas e o meio ambiente são tão sombrias quanto".
Libération (França)
O francês Libération, tradicional publicação de esquerda, estampou a foto do candidato na capa de sua edição. O título: "Racista, homofóbico, misógino, pró-ditadura _ e no entanto ele seduz o Brasil".
No texto, destaca uma frase de Bolsonaro: "Os portugueses nem chegaram a pisar na África. Foram os próprios negros que entregaram os escravos."
Em seguida, complementa: "O homem que fez essas observações em 30 de julho no canal de TV Cultura, talvez seja o próximo presidente de um país com mais de 200 milhões de habitantes. Essa negação é apenas uma das muitas provocações de um personagem que apareceu no cenário político brasileiro".
Al-Jazeera (Catar)
Com sede no Catar, país do Golfo Pérsico, a rede de TV árabe Al-Jazeera fez uma ampla cobertura durante toda a campanha. Após as manifestações pró e contra Bolsonaro, no fim de semana, a emissora destacou no título de uma reportagem: "Polarização política se intensifica antes das eleições no Brasil".
Outras reportagens abordaram "os elevados índices de criminalidade, a economia vacilante e os vários escândalos de corrupção" como aspectos que inquietam o país nos últimos anos. A emissora também afirmou que "muitos políticos ligados aos piores escândalos de corrupção do Brasil devem ser reeleitos".
Agência Reuters (Reino Unido)
Tradicional agência de notícias britânica, a Reuters tem publicado reportagens frequentes dando voz aos humores do mercado em relação ao pleito no Brasil, maior economia da América Latina. A visão é que ganhe quem ganhar, há expectativa de que a recuperação da atividade econômica seguirá lenta. A palavra "hibernação" é usada com frequência para se referir ao Brasil, como um urso que, por anos, esteve adormecido.
A agência tem refletido a expectativa dos investidores de que, após a eleição, haverá as "políticas futuras se tornariam mais claras": "a eleição de um presidente com políticas que inspirem confiança de longo prazo pode impulsionar aquisições e novos investimentos em infraestrutura", diz a agência em reportagem.
Los Angeles Times (EUA)
Reportagem do jornal americano afirma em texto que, na política brasileira, nunca faltou drama. Também destacou os escândalos de corrupção, que levaram à interrupção do mandato de dois presidentes, Fernando Collor de Mello e Dilma Rousseff e à prisão de Luiz Inácio Lula da Silva: "Mais de 100 outros políticos de alto escalão de 14 partidos foram implicados na investigação de corrupção em curso conhecida como Lava-Jato". O texto concluiu que a corrida presidencial continua como um "teatro política".
The Economist (Reino Unido)
Tradicional revista liberal do mundo, The Economist trouxe reportagem de capa, na qual classificou o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, como "a mais recente ameaça para a América Latina". Segundo a publicação, o candidato seria "um presidente desastroso". A fotografia da primeira página mostra o presidenciável com as cores do Brasil e a chamada: "Latin America's latest menace" (a mais recente ameaça da América Latina).
O texto diz que Bolsonaro é o mais recente em um "desfile de populistas". O texto compara o candidato do PSL a políticos de diferentes matizes do espectro político, como Donald Trump (presidente dos Estados Unidos) e Rodrigo Duterte (presidente das Filipinas), Matteo Salvini (premier da Itália) e Andrés Manuel López Obrador (presidente eleito do México). Na sequência, afirma: "O próximo presidente do país pode salvar ou sabotar a maior democracia da América Latina".
Deutsche Welle (Alemanha)
Reportagem recente de um dos principais veículos de comunicação da Alemanha, a Deutsche Welle destacou a crescente influência do movimento evangélico e sua capacidade de "moldar as eleições": "A influência da Igreja Católica diminuiu no Brasil (...) Agora, essas igrejas estão voltadas para a presidência, sinalizando uma possível guinada à direita", diz a reportagem, que destaca como marco do fenômeno a eleição de Marcelo Crivella, bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, como prefeito do Rio de Janeiro, em 2016.
Huffington Post (EUA)
"Uma coisa engraçada aconteceu horas depois de Jair Bolsonaro, deputado da extrema-direita do Rio de Janeiro, ter sido esfaqueado durante uma parada de campanha este mês: o mercado de ações do Brasil subiu." Assim um dos mais influentes sites de notícias dos EUA, o Huffington Post, começou uma reportagem abordando como "elites financeiras estão prontas para jogar o Brasil nas mãos de um autoritário de extrema-direita".
A reportagem também faz um perfil de Jair Bolsonaro e de seu mentor econômico, Paulo Guedes, chamado pelo site de "Chicago Boy", em alusão ao fato de o economista ter estudado na Universidade de Chicago, um dos bastiões do liberalismo mundial. O texto traça paralelo com a ditadura de Augusto Pinochet, no Chile, que introduziu os pensadores de Chicago na política econômica do país. Também se refere a Bolsonaro como o "Trump do Brasil".
Forbes (EUA)
A revista de economia, uma das mais importantes do mundo, afirma que o PT está "preso ao Nordeste e ao passado". Também destaca que a legenda corre o risco de se tornar um partido regional. A reportagem interpreta a chances de uma nova ditadura militar no Brasil diante da eleição de Bolsonaro: "Esta não é a Guerra Fria", afirma. "Naquela época, os EUA davam apoio a ditadores militares em toda a América do Sul em uma luta entre o modo russo e americano de governar uma economia e uma nação". "Não haverá ditadura no Brasil", conclui.
El Tiempo (Colômbia)
O jornal colombiano destacou as razões para que uma delegação da Organização dos Estados Americanos (OEA) tenha sido enviada para observar as eleições no país, "as mais imprevisíveis das últimas décadas", segundo a reportagem.
A chefe da missão é a ex-presidente da Costa Rica Laura Chinchilla, que, ao longo da última semana de campanha, se encontrou com autoridades eleitorais, partidos políticos, candidatos, pesquisadores e representantes de ONGs. Equipes da OEA estarão em 13 dos 27 Estados Brasileiros. A equipe veio ao país a convite do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Xinhua (China)
A agência de notícias estatal chinesa fez várias reportagens sobre a eleição brasileira, destacando, nos últimos dias promessas dos candidatos à presidência em relação ao Brics, bloco integrado por, além de Brasil e China, Rússia, África do Sul e Índia. Os chineses também destacaram as falas dos presidenciáveis em relação ao Mercosul.