No que pode ser a primeira grande ação coordenada do Ocidente para frustrar ataques cibernéticos russos, o governo da Holanda anunciou nesta quinta-feira ter debelado uma tentativa de ataque de hackers ao sistema da Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq). A ação ocorreu em 13 de abril. Quatro russos foram expulsos do país. Chama a atenção que os suspeitos têm passaportes diplomáticos russos, o que os liga diretamente ao Kremlin.
O governo holandês acusou a GRU, agência de inteligência militar da Rússia, de estar por trás do ataque. A denúncia partiu da ministra da Defesa da Holanda, Ank Bijleveld. Os suspeitos estavam em um hotel perto da sede da Opaq, em Amsterdã.
À época, a organização trabalhava para identificar a substância utilizada em um ataque na cidade britânica Salisbury contra o ex-espião russo Sergei Skripal e sua filha Yulia. A entidade também tentava verificar qual substância havia sido usada em um ataque supostamente químico em Douma, na Síria.
— O GRU interferiu em eleições livres e buscou uma campanha hostil de ataques cibernéticos — afirmou, segundo a rede CNN, Peter Wilson, embaixador britânico na Holanda. — Trata-se de um órgão agressivo e bem financiado do Estado russo. Não se pode mais permitir que ele atue em todo o mundo ... com aparente imunidade.
O secretário de Relações Exteriores britânico, Jeremy Hunt, ameaçou:
— A Rússia deve saber que há uma linha vermelha e que se eles tentarem intervir nos processos democráticos de outros países, eles serão expostos e haverá conseqüências.
Um dos agentes havia feito conexões com Brasil, Suíça e Malásia, tentando interferir na investigação da derrubada do vôo MH17 da Malaysia Airlines no leste da Ucrânia. Eles foram identificados como Aleksei Morenets, Evgenii Serebriakov, Oleg Sotnikov e Alexey Minin.
Também nesta quinta-feira, serviços de inteligência de Grã-Bretanha, Nova Zelândia e Austrália acusaram o GRU de estar por trás de uma invasão de computadores do Comitê Nacional do Partido Democrata nos EUA, em 2016. As acusações coincidem com a decisão do Departamento de Justiça americano de formalizar denúncias contra sete agentes de inteligência russos, acusando- os de hackeamento, fraude eletrônica, roubo de identidade e lavagem de dinheiro. Quatro deles têm relação com a ação frustrada pela Holanda, de invasão da rede da Opaq.