O dragão chinês abocanha setores estratégicos em países da América do Sul, da África, da Ásia e, agora, faz seu lance mais ousado no coração da Europa: o Vaticano. Desde 1949, com a revolução que instaurou a República Popular da China, os 12 milhões de católicos do gigante asiático professam sua fé de forma dividida.
Há uma ala controlada pelo regime comunista, originalmente ateu, e outra, clandestina, que reconhece somente a autoridade papal.
Em alguns momentos, houve tensões entre a Santa Sé e o governo chinês, com Pequim chegando a nomear bispos sem o aval do papa de Roma. Um acordo recente, que levou 10 anos para ser costurado, levou Francisco a aceitar as nomeações dos religiosos e, por parte de Pequim, o reconhecimento do Papa como a autoridade máxima da Igreja Católica no país. O problema: quase como a parábola do Filho Pródigo, católicos que militavam nas fileiras clandestinas, algumas vezes sofrendo perseguições, assassinatos e prisões arbitrárias há décadas, sentiram-se traídos pelo Vaticano. Viram no acerto o beija-mão de sua Igreja à ditadura comunista.
A materialização desse acordo ocorre durante o sínodo (reunião), desde esta quarta-feira no Vaticano e que conta, pela primeira vez, com a presença de dois bispos chineses, entre os 260 religiosos.
No que muitos veem a capitulação do Papa ao regime chinês, tudo indica ser política: a Igreja está se aproximando daquela que será, em breve, a nação mais poderosa do mundo.