Alinhamento com Estados Unidos e Israel. Essas devem ser as prioridades do presidente eleito Jair Bolsonaro, do PSL, na política externa. A vitória do capitão reformado deve representar a ruptura da visão de uma estratégia levada a cabo nos últimos 18 anos pelo Itaramaty, que privilegiava as relações Sul-Sul e prioridade à integração da América Latina.
No primeiro pronunciamento após a eleição, o futuro presidente prometeu aproximar o país de nações desenvolvidas e tecnológicas. Repetiu a ideia de construir um "novo Itamaraty", o que significa, segundo ele, a desideologização do Ministério das Relações Exteriores. Para Bolsonaro, os diplomatas brasileiros seguiram orientação do PT nos últimos anos, alinhando a política externa a nações como Venezuela, Bolívia, países vistos pelo político como terroristas.
Também pode-se esperar o aumento da pressão sobre a Venezuela de Nicolás Maduro. Não é de hoje que os EUA apostam no Brasil como mediador da crise no país vizinho. Um sinal verde americano para atuar na Venezuela pode fazer o novo presidente elevar o tom contra o regime bolivariano, em aliança com parceiros conservadores no continente, como Maurcio Macri, da Argentina, e Mario Abdo Benítez, do Paraguai. Sobre a onda migratória, ele afirmou recentemente que fechar a fronteira não é solução. Tem dito que buscará, junto às Nações Unidas, a construção de campos de refugiados.
Israel deve ser o primeiro destino internacional de Bolsonaro, que tem para temas de Oriente Médio uma postura muito próxima de Trump.
Ele não reconhece a Palestina como Estado, algo que o Brasil legitima desde 2010. O presidente eleito também deve seguir os passos do americano, transferindo a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém, o que, na prática, significará reconhecer a cidade sagrada como capital israelense.
À semelhança do presidente dos Estados Unidos, Bolsonaro também tem criticado a China, dizendo que chineses não deveriam ter permissão para comprar terras brasileiras ou controlar indústrias essenciais.
Uma fonte próxima ao Itamaraty afirma que não há radicais no ministério. A aposta para chefiar a diplomacia brasileira, no caso de vitória do candidato, é um moderado de centro-direita. O próprio Bolsonaro afirma que, se eleito, vai acabar com a interferência partidária na escolha dos ministros e usar o que chama de critérios técnicos para montar a equipe.
— Tem que ser alguém que tendendo daquele assunto. Assim como na Defesa vai ter um oficial quatro estrelas, no Itamaraty, alguém do Itamaraty.
Durante a campanha, ele chegou a mencionar como chanceler o príncipe Luiz Philippe de Orleans e Bragança, cientista político, empresário, escritor e deputado federal eleito com 118 mil votos pelo PSL-SP. Mas depois de um suposto atrito entre o príncipe e o comando da campanha, Bolsonaro afirmou que o cargo deverá ser ocupado por um diplomata de carreira. Um dos nomes visto como preferido para o cargo é o de Ernesto Fraga Araújo, diretor do Departamento de Estados Unidos, Canadá e Assuntos Interamericanos do Itamaraty. Ele enviou à cúpula da campanha do presidenciável o artigo Trump e o Ocidente, de sua autoria, que deixou os responsáveis pelo programa de governo e análises bem impressionados: "O presidente Donald Trump propõe uma visão do Ocidente não baseada no capitalismo e na democracia liberal, mas na recuperação do passado simbólico, da história e da cultura das nações ocidentais", afirma o texto.
— Ele é visto como pró-Bolsonaro, um diplomata que considera Trump como garantidor da civilização ocidental — disse à coluna uma fonte, na semana passada.
Outros nomes são os de Marcos Bezerra Abbott Galvão, secretário-geral das Relações Exteriores, e do embaixador e ex-ministro da Indústria, do Comércio e do Turismo no governo Fernando Henrique Cardoso José Botafogo Gonçalves.