No dia em que Donald Trump se elegeria 45º presidente dos Estados Unidos, acordei cedo para entrevistar eleitores em Nova York. Estava no Upper West Side, quando avistei uma professora seguida por uma fila de pequenos estudantes, cada um não tinha mais do que cinco anos. Cruzavam a avenida. Ao fundo, havia uma seção eleitoral movimentada. Antecipei mentalmente uma foto: imaginei uma bonita cena de Manhattan em dia de eleição, com eleitores ao fundo, na fila, aqueles pequenos cidadãos, futuros votantes, à frente. Saquei a câmera e, quando a apontei, levei um pito da professora, com cara de brava.
– No picture!
Envergonhado, baixei a câmera.
Na visão daquela professora, eu poderia ser um sequestrador, terrorista, pedófilo até. Vá saber? É com esse zelo extremo que os americanos cuidam de suas crianças. Por isso, imagens de migrantes do Terceiro Mundo atrás de cercas que pareciam gaiolas chocaram não apenas boa parte do mundo como muitos americanos. Abrigar menores em orfanatos não é uma política de Estado americana há décadas. Crianças separadas de suas famílias, por razões como crimes cometidos pelos pais, moram normalmente com outras famílias voluntárias – e não em frias instituições do governo. Sabedores dos traumas psicólogicos que isso pode causar, autoridades normalmente tratam a reunificação com os pais ou com outros parentes como prioridade.
Começou em 7 de maio, mas a polêmica só explodiu no ventre americano esta semana. Após dias de críticas, o presidente assinou nesta quarta-feira ordem executiva para manter pais e filhos unidos. Após o decreto, nesta quinta-feira, os deputados votam às pressas lei que acaba com as separações.
– Com nossa lei, quando as pessoas forem processadas por cruzarem a fronteira ilegalmente, as famílias ficarão juntas durante todo o processo legal, sob autoridade da segurança da Pátria – disse Paul Ryan, um dos mais próximos líderes de Trump.
Em outras palavras, Trump e o partido cederam. Encontraram outra solução. Agora, os EUA irão prender os pais junto com os filhos.