A Guerra Fria acabou, mas os requintes de espionagem ou planos mirabolantes para enganar inimigos seguem vivos. Nesta quarta-feira,o jornalista Arkadi Babchenko, cuja morte foi anunciada pelas autoridades da Ucrânia na terça-feira, apareceu concedendo uma entrevista coletiva.
As forças de segurança ucranianas explicaram que encenaram sua morte para frustrar um assassinato, que teria sido encomendado pela Rússia. A informação divulgada na terça-feira era de Babchenko teria sido abatido com três tiros ao sair de casa.
Ex-soldado russo convertido em repórter de guerra, o jornalista apareceu na frente das câmeras e explicou que ele próprio participou da encenação como parte de uma "operação especial" preparada há dois meses.
Sua aparição foi recebida com aplausos e exclamações de incredulidade por seus colegas.
— Eu realmente gostaria de agradecer aos Serviços de Segurança da Ucrânia por terem salvo minha vida. Gostaria de pedir desculpas à minha esposa pelo inferno que ela viveu por dois dias — afirmou.
As forças de segurança ucranianas garantiram que sua família estava ciente da operação.
Babchenko é um crítico do presidente Vladimir Putin e havia se mudado para Kiev, na Ucrânia, em 2017, depois de receber ameaças de morte.
— Graças a essa operação, conseguimos frustrar uma provocação cínica e documentar os preparativos para esse crime pelos serviços especiais russos — declarou o chefe dos serviços de segurança ucranianos, Vassyl Grytsak.
Babchenko participou nas duas guerras da Chechênia como soldado antes de se tornar um jornalista muito crítico contra o Kremlin.
Ele havia relatado sua experiência nas guerras nesta república russa do Cáucaso em um livro, "One Soldier's War".
Antes de deixar Moscou, trabalhou para o jornal Novaya Gazeta e para a rádio Echo de Moscou, dois meios de comunicação críticos do Kremlin.
A ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF), que havia instado a Ucrânia e a Rússia a "cooperarem" para esclarecer esse "ato desprezível" em vez de "se envolver em uma perigosa guerra de informações", condenou nesta quarta-feira o que chamou de "simulação dolorosa".
Na manhã desta quarta-feira, dezenas de jornalistas se reuniram em frente à embaixada russa em protesto pela suposta morte. Outra mobilização estava prevista para a noite na praça central de Kiev.