Os EUA foram grandes responsáveis no período pós-1945 por construir regramentos e organizações que culminaram em uma ordem internacional que, apesar de não garantir a paz, pelo menos evitou até agora a III Guerra Mundial e a repetição do uso de armas nucleares contra populações civis. No entanto, a atual administração tem se caracterizado por desfazer acordos e colocam em risco o equilíbrio de poder em regiões do planeta — algumas muito sensíveis como o Oriente Médio.
O rompimento do tratado com o Irã é mais um passo nesse sentido. Porém, não pode ser visto como surpresa. O gesto era um dos mais badalados no plano de governo de Donald Trump na campanha de 2016 — e vai ao encontro do desejo de muitos de seus eleitores.
Veja algumas das decisões da política externa americana de Trump:
1) Acordo Transpacífico
No primeiro dia de governo, o presidente anunciou a saída dos Estados Unidos do tratado, com 12 membros. Alegou que o acordo expunha o país a concorrência injusta. Um ano mais tarde, após os outros 11 membros assinarem o tratado, mudou de tom e sugeriu estar aberto a voltar a participar, caso os Estados Unidos consigam alterações que não foram detalhadas.
2) Nafta
Depois de qualificar o Acordo de Livre-Comércio da América do Norte (Nafta, na sigla em inglês), vigente há 24 anos, como "desastre" e o "pior acordo comercial possivelmente já assinado" pelos Estados Unidos, Trump exigiu, no ano passado, que ele fosse renegociado. México, Canadá e EUA tentam reformular o acordo, mas depararam com grandes obstáculos. Os diálogos estão estagnados.
3) Acordo de Paris
Os EUA saíram do tratado sobre mudanças climáticas, um dos grandes acertos da história, após o vilipendiado Protocolo de Kyoto e décadas de um cabo de guerra entre nações industrializadas (as mais poluidoras), países em desenvolvimento (como China, também campeã em emissão de CO2) e pequenos territórios que já sofrem os impactos do aquecimento global. Apesar da decisão, Trump disse estar aberto a uma renegociação do acordo. Contudo, seu governo não deu passos nessa direção.
4) Embaixada em Jerusalém
Trump reconheceu, no ano passado, Jerusalém como capital de Israel, uma declaração condenada pela comunidade internacional — a maioria dos países mantém sua embaixada em Tel-Aviv. A mudança da sede diplomática americana para a cidade, cuja região oriental é reivindicada pelos palestinos — está marcada para a semana que vem.
5) Coreia do Norte
Após meses de retórica belicista, Trump anunciou em maio que fará uma reunião com Kim Jong-un. É um dos poucos pontos positivos da agenda externa americana, ainda que muito do que foi costurado até agora deva-se à ação direta do governo da Coreia do Norte.
6) Síria
Trump disse no mês passado querer "retirar" as tropas da Síria, mas os generais do Pentágono garantiram que não havia mudanças nas missões de combate ao grupo extremista Estado Islâmico e que as forças americanas permaneceriam no país. O presidente ordenou dois ataques com mísseis contra o regime de Bashar al-Assad, após tê-lo acusado de usar armas químicas. Provas do suposto arsenal químico nunca foram mostradas.