Primeira boa notícia no cenário internacional neste 2018, o anúncio de que Kim Jong-un e Donald Trump planejam se reunir é, até agora, o ponto máximo do degelo da tensão na Península Coreana em décadas. Tudo começou na virada do ano no Ocidente, justamente depois de um 2017 em que o mundo ficou à beira de uma guerra nuclear no Extremo Oriente.
Com impacto global, a confirmação do encontro, marcado para maio em local ainda não definido, vem na esteira de uma série de passos que começaram no discurso de “Ano-Novo” de Kim, que acenou com a reaproximação com os irmãos do Sul. Ato contínuo, abriram-se as portas para a participação dos atletas norte-coreanos nos Jogos de Inverno, em PyeongChang - episódio carregado de simbolismo, que rendeu frutos políticos, como o encontro de autoridades dos dois países na chamada zona desmilitarizada, ironicamente, uma das regiões mais… militarizadas do planeta.
A tática de Kim deu certo: ao estabelecer conexão direta com o governo do Sul, a ditadura norte-coreana isolou os EUA como negociador histórico da região. O “America first” de Trump tem seu preço. Ser substituído por outros jogadores do cenário global.
Mais: com gestos de aproximação, os norte-coreanos mostraram-se aos olhos do mundo que não são tão intransigentes ou que Kim não é o bicho papão que pensávamos. Sem o protagonismo de outrora dos EUA na diplomacia mundial e com Kim em versão paz e amor, coube aos norte-coreanos o protagonismo: foi o ditador que chamou Trump para sentar à mesa de negociações.
Kim chega mais forte ao encontro de maio - com moral de ter tomando a iniciativa, principalmente, mas também por conta do peso de seu suposto arsenal. Ainda que desconhecida sua capacidade bélica, no ano passado, o regime realizou vários testes com mísseis balísticos capazes de transportar ogivas nucleares, alguns cruzando os céus do Japão. As ações mostraram que já não é possível tratar as falas de Kim como meras bravatas.
O mais incrível de tudo isso é que os dois presidentes de extremos, acostumados a arroubos, podem acabar protagonizando algo que ninguém, em mais de 65 anos de uma guerra que não acabou, conseguiu: uma paz duradoura. Ainda é cedo, no entanto para sonhar, como a própria história já mostrou. Aproximações entre o Sul e o Norte foram tentadas entre 2000 e 2007, quando vigorava no Sul a chamada “sunshine policy”. Ainda que que o anúncio da reunião de cúpula seja histórica, por ora, é melhor iniciarmos o fim de semana com os dois pés atrás.