Crônica publicada em 29/09/2009
Digo-o sem nenhum pejo: às vezes, fico matutando sobre como as pessoas gostam tanto de mim.
O que fiz eu para que as pessoas gostem tanto de mim? Gostam de mim mais as pessoas aproximadas de mim, os que me veem todos os dias ou em média uma vez por semana, estes são apaixonados por mim.
Gosta tanto de mim o Moisés Mendes, que mergulhou na internet e gravou para mim dezenas de tangos clássicos, de domínio público, como Malena, interpretado magistralmente por Adriana Varela, Volver, Mano a Mano, La Cumparsita e Viejo Ciego, este cantado pelo imortal Roberto Goyeneche.
Deu-se à pachorra, o Moisés, de dar-me de presente esta coleção memorável de tangos, construída com sua paciência e bom gosto ao escolher as músicas e dar-mas de presente para que eu me delicie no toca-discos do meu carro.
É gostar de mim ou não é? Vejam o caso de Loraine Chaves, a mulher de Kadão, o Ricardo Chaves, fotógrafo de ZH.
Pois a Loraine deu-se à pachorra de fazer um arroz de leite, com o arroz cozido não na água, mas no próprio leite, misturar não sei com que técnica a gemada no arroz de leite, e dar-me de presente a insuperável iguaria, dentro de uma grande vasilha.
Outras pessoas me dão arroz de leite de todos os tipos.
Mandam-me doces de Pelotas, de Encruzilhada do Sul, aqui da Capital, doces e mais doces, empanturram-me de doces, principalmente de papo de anjo com calda.
E eu, descuidadamente, relapsamente não devolvo suas vasilhas.
Por que gostam tanto de mim as pessoas, que algumas me telefonam e quando eu respondo alô elas imediatamente desligam, só estavam com saudade da minha voz? Por que me amam tanto assim as pessoas, que se acercam de mim espertamente para só estar comigo e deliciarem-se com minha companhia? Por que me amam tanto as pessoas, que quando ameaço que vou deixar esta sala em que escrevo, por aqui não me deixarem fumar, é uma correria entre o Clóvis Malta, o Olyr Zavaschi, o Nílson Souza e a Suzete Braun para que eu não os abandone.
Não me deixam fumar, mas quando ameaço trocar de sala me fazem todas as outras vontades, comoventemente.
Por que me amam tanto as pessoas, que uma senhora se empenhou durante uma semana inteira em dar-me a imagem de uma santinha, a sagrada Virgem Maria, para que eu a depositasse no quarto do hospital, em busca da esperança da minha cura? Por que me amam tanto a Rosane Marchetti e a Cristina Ranzolin, que vivem perguntando para mim e para os que me cercam quando, afinal, curado, eu voltarei para o lado delas no Jornal do Almoço? Por que me amam? Que atração irresistível de afeto eu inspiro às pessoas? Por que me amam tanto as pessoas, que as raríssimas que me odeiam ou me invejam não o fazem por me odiar ou me invejar, mas por me admirar, numa teia psicológica intrincada que afirma cada vez mais que inveja é sinônimo de admiração? Por que me amam? Vale a pena viver quando se é por esta forma amado e admirado.
Pois eu quero dizer a todos os que me amam que aproveitem os últimos melhores momentos de minha vida e banqueteiem-se de mim, usufruam de mim todinho.
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