Depois de 30 anos de tentativas frustradas para revitalizar o centro de Porto Alegre, nenhuma proposta foi tão consistente quanto esta que agora começa a sair do papel: ela finalmente ataca a causa, e não as consequências do problema. Trata-se de uma quebra de paradigma que precisa ser celebrada, porque, vejamos:
Fazer restaurações, consertar calçadas, pintar viadutos, plantar florzinha, tudo isso é importante e deve ser feito, mas serão sempre reparos paliativos se o verdadeiro culpado pela degradação continuar. E o projeto do prefeito Sebastião Melo, aprovado nesta semana pelos vereadores, enfrenta, enfim, o maior responsável pela decadência do Centro Histórico: o plano diretor.
Hoje, na prática, é proibido construir qualquer coisa naquela região – um prediozinho até dá para fazer, mas nada que represente um investimento significativo no bairro. E nenhum lugar do mundo, em qualquer país que seja, se desenvolve sem investimento significativo.
O famoso Esqueletão, por exemplo, símbolo do abandono do Centro: por que ninguém compra aquele terreno e constrói um empreendimento mais atrativo no lugar dele? Porque não pode. O chamado "estoque de potencial construtivo", ou seja, a capacidade de receber novas edificações, está esgotada na região central, conforme as regras do plano diretor atual. Quer dizer: o bairro atravessou décadas condenado a nunca mais se renovar.
Isso vai mudar com o projeto aprovado na Câmara. É como se o Centro passasse a ter um plano diretor específico, com construções novamente liberadas e possibilidade de receber empreendimentos outra vez. Principalmente empreendimentos residenciais – que, segundo a prefeitura, serão uma prioridade a partir de agora.
A ideia é recuperar a imensa quantidade de moradores que foram embora. Essa debandada de residentes fez o bairro se esvaziar após o horário comercial, acabando com a sensação de segurança. São os moradores que levam vitalidade para as ruas, ocupam o espaço público e fazem a economia do bairro girar, inclusive atraindo mais investimentos.
A médio e longo prazo, conforme o perfil de ocupação do Centro for mudando, a tendência são as mazelas da região recuarem: violência, degradação, comércio informal, tudo tende a perder força. Porque finalmente vamos atacar a causa, e não as consequências do problema.